segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

QUAL É A DE DEUS?

- Por Maísa Intelisano -

http://www.ippb.org.br/modules.php?op=modload&name=Search&file=index&action=search&active_stories=1&stories_topics[0]=32


Deus, causa primária de todas as coisas... Assim Kardec nos coloca Deus... Parece bem simples e óbvio, não? Mas será que é mesmo? Vejamos...

- causa - aquilo que provoca, que causa, que faz existir, que faz acontecer, que cria, razão, motivo, origem.

- primária - primeira, que não tem precedentes ou antecessores, que vem antes de tudo.

- todas as coisas - tudo, a totalidade das coisas, animais e pessoas.

Vamos ver se agora conseguimos entender... Deus, aquilo que faz existir a totalidade das coisas e acontecer a totalidade dos fatos, e que não tem precedentes ou antecessores, porque veio antes de tudo.

Tão simples e, ao mesmo tempo, tão complexo... Tão óbvio e, ao mesmo tempo, tão misterioso.

Se veio antes de tudo e é a causa de tudo, não tem causa própria, não foi criado, não foi provocado, nem teve origem ou começo, sempre existiu. Simples? Óbvio?

Tentando ser mais claro e incapaz de definir Deus diretamente, Kardec nos fala dos seus atributos, dizendo que Ele é eterno, infinito, imutável, imaterial, único, onipotente, soberanamente justo e bom... Também parece óbvio... Será? Vejamos...

- atributo - aquilo que é próprio de um ser, característica, qualidade.

- eterno - que não tem princípio, nem fim; que sempre existiu e sempre existirá; constante, incessante, permanente.

- infinito - que não tem fim, termo ou limite; inumerável, incalculável, incontável, imensurável.

- imutável - que não está sujeito a mudanças, que não muda, que é sempre igual.

- imaterial - aquilo que não tem a natureza da matéria, não material, impalpável, intangível.

- único - que é só um; de cuja espécie não existe outro; exclusivo; a que nada é comparável.

- onipotente - que pode tudo; que tem poder absoluto; todo-poderoso.

- soberanamente - com poder ou autoridade suprema, sem restrição nem neutralização; de forma suprema, absoluta.

- justo - conforme a justiça, a eqüidade, a razão; imparcial, reto; íntegro; exato, preciso; legítimo, fundado.

- bom - que tem todas as qualidades adequadas à sua natureza ou função; benévolo, bondoso, benigno; misericordioso, caritativo.

Mas será que só por estes atributos conseguimos saber quem ou o que é Deus? Não seriam estes atributos demasiadamente humanos para definirmos Deus em sua totalidade?

Na tentativa de entender Deus, o homem sempre acabou por racionalizá-lo e com Kardec não foi diferente. Deus, ou o que quer que entendamos como criador do universo, é algo que escapa à nossa compreensão, que está acima de tudo o que possamos entender sobre nós próprios e sobre tudo o que existe.

Alguns, querendo torná-Lo mais próximo, passaram a entendê-Lo como estando em tudo e como sendo tudo, ou como se toda a criação estivesse Nele. Outros, modificando um pouco esta interpretação, atribuíram a todos os seres a condição de deuses. E, mesmo assim, ainda não nos foi possível compreender Deus, ou mesmo chegar mais perto Dele.

É que Deus não precisa ser entendido, ou encontrado, ou capturado. Ele nem sequer precisa ser pensado. Afinal, também o pensamento foi criado por Ele... Ele simplesmente é. E sendo, Ele existe em nosso pensamento, em nosso entendimento, independentemente da nossa vontade ou do nosso consentimento. Tudo o que somos foi criado por Ele. Absolutamente tudo.

Livre-arbítrio? Bem, deixe-me dizer-lhe uma coisa... O libre-arbítrio também foi inventado por Deus, para dar-nos a impressão de que podemos comandar a nossa própria vida. Mas não se engane! As regras que comandam o livre-arbítrio também foram criadas por Deus... Desse modo, aquilo que escolhemos, ou pensamos que escolhemos, segundo nosso livre-arbítrio, obedece a regras criadas por Deus. Assim, dedução óbvia, nossas escolhas são criações indiretas de Deus...

Parece fatalismo? Talvez, mas não é. As regras estão aí e nós convivemos com elas, dia a dia, lado a lado, e não nos damos conta. Ou preferimos não nos dar conta. As regras foram criadas por Deus e se auto-regulam, colocando em equilíbrio a criação. Se somos parte da criação, se também somos criaturas de Deus, lógico que sejamos também por elas regulados, equilibrados, estabilizados.

A única escolha legítima a que temos direito é amar ou não a Deus e sua criação. Esta é a nossa única escolha. Esta é a única opção a que o nosso livre-arbítrio tem acesso. Feita a escolha, no entanto, entram em ação as regras divinas, precisas, inequívocas, infalíveis, fazendo-nos entender a própria escolha e suas conseqüências. Nada mais...

Chame-O do que quiser, mas lembre-se de que Deus é. Ele não está. Ele apenas é. Não tente entender o que Ele é ou onde Ele está. Não tente vê-Lo. Apenas lembre-se de que Ele é e de que, para ele, não existe passado ou futuro, pois o tempo não existe.

Não O busque fora de si, não O busque nem mesmo dentro de si, pois Ele não está onde quer que seja. Ele é. E sendo, não há espaço que O acomode.

Não tente senti-Lo, tampouco, pois tudo o que você conseguirá será sentir a própria criação, pulsando mais forte em seu coração.

Ame, apenas. Ame a Deus em sua criação. Ame a Deus, amando a tudo e a todos. Ame a Deus em todas as coisas, inclusive no próximo e em si mesmo. Ame, pois isso será o mais próximo que você conseguirá chegar de Deus e sua essência.

São Paulo, 17 de janeiro de 2006.

Maísa Intelisano

Instrutora, pesquisadora e palestrante na área de parapsiquismo e percepção extra-sensorial, com mais de 30 anos de experiência pessoal com a paranormalidade.

Dirigente de trabalhos de assistência espiritual há 10 anos. Terapeuta de vidas passadas e reikiana nível II, com formação em transpessoal, com consultório no espaço Helianthhus Terapias e Cursos. É colaboradora da Oficina de Consciência, além de escrever para a Revista Espiritismo & Ciência e a Revista Cristã de Espiritismo. Mantém ainda o fórum Mediunidade e Espiritualidade sobre paranormalidade e mediunidade.

E-mail para contato é: alfamintelis@yahoo.com


Paz e Luz!

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Religião e Ciência

EU CONFESSO! "Roubei" descaradamente este texto do blog do meu Amigo Querido João Carlos.

Em primeiro lugar, prq gosto demais de como ele escreve e por ser muitíssimo coerente.

Em segundo lugar, putz! o velho lobo do mar é muito bom no que faz!


RELIGIÃO E CIÊNCIA

http://chivononpo.blogspot.com/2005/06/religio-e-cincia.html

"A fé pode ser definida resumidamente como
uma crença ilógica na ocorrência do Improvável"
H. L. Mencken


Salve, Pessoal! Por mais irônica que seja, a colocação de Mencken sobre a fé não poderia ser mais exata. E Religião (a menos que você seja um hipócrita que esfrega lama azul na barriga, para imitar os nativos) é uma questão de fé. Se você não precisa de fé, tanto melhor para você.

Como disse Brecht: "Infeliz do povo que precisa de heróis". Se você se sente bem com o Universo e acha que ele não precisa de um "propósito", que tudo que existe é resultado do acaso e, mesmo assim, você se propõe a ser uma pessoa decente, a tratar os outros como você gostaria de ser tratado, a achar que cada ser humano é uma pessoa diferente, mas que merece a mesma consideração, se você se preocupa com o Mundo que você vai deixar para as gerações vindouras, e se procura ser uma pessoa melhor, a cada dia, meus parabéns!

E, diga-se de passagem, tenho muito prazer em conhecê-lo!

Porque, para mim, não me importa a mínima se você reza para Buda, Alah, Jeová, Jesus Cristo, Krishna, Oxalá, ou se você nem reza. Para mim, a melhor forma de oração não é ficar entoando louvaminhas ao "Criador": é tratar bem a Criação!

Me desculpem os religiosos que enfatizam "o poder da oração", mas eu acho que ficar pedinchando favores aos Deuses, puxando o saco deles e querer que, por conta disso, o acaso conspire a seu favor, é hipocrisia e perda de tempo.

Será que você acha que Deus é tão otário quanto o seu pai e que, quando você diz: "eu fiz tudo errado, mas juro que vou fazer certo, na próxima vez", Ele vai acreditar? Ele te conhece, nego. Ele já sabe que você, na primeira oportunidade, vai fazer a mesma besteira de novo.

Do mesmo jeito, se você não faz nada para melhorar sua vida (nem a de seus semelhantes — aí inclusos todos os seres vivos e inanimados dessa Terra), senta no meio-fio e fica reclamando: "Deus não faz nada por mim!...", está errado! Deus faz, sim. Senta a seu lado e faz companhia...

Então, quando me perguntam: "para que serve uma religião?", eu sou obrigado a responder: "religião não é uma utilidade." Não serve para coisa alguma, a não ser para você se sentir uma parte útil do Universo e agradecer esse simples fato! Você acha que isso é pouco? Então vá fazer seu universozinho, você mesmo, e ver no que é que dá...

O que poucos querem se dar ao trabalho de ver é que qualquer religião tem uma íntima relação com magia. A magia, sim: essa tenta viciar os dados para que eles rolem a seu favor. Toda cerimônia religiosa é um ato mágico. A procura da integração com poderes maiores, com o intuito de favorecer o praticante. Mas, se você disser a um Católico que a Comunhão (o ato de ingerir a hóstia) é um ato de canibalismo ritual (você está comendo o corpo de Cristo, para ver se absorve um pouco de sua santidade), ele vai se benzer com o pé esquerdo e jogar um balde de água benta na sua cara, esperando que você desapareça, deixando no ar um cheirinho de enxôfre...

Só que, para conseguir essa integração com os poderes superiores, você tem que estar em sintonia com a freqüência deles. Se não estiver, você vai estar assistindo a um televisor desligado...

E todas as religiões que praticam atos de magia branca, pregam a mesma coisa: fraternidade, caridade, justiça, tolerância e o perdão. Os quatro primeiros ítens já são bastante difíceis, mas o último!... Se você se acha incapaz de, pelo menos, tentar esses cinco itens, minha recomendação é que você atire às favas a decência e procure algum culto satanista.

Se você acha que decorar a Bíblia (ou o Torá, ou o Corão) e fingir que acredita em cada bendita letra ali escrita, vai salvar sua alma do inferno, vá em frente! Eu já estou vendo você diante do Juiz, recitando versículo após versículo, enquanto o meirinho celestial fica olhando para o relógio, com cara de poucos amigos...

E, quando o Juiz lhe perguntar: "E o que você fez com o livre-arbítrio que lhe foi dado?", você sempre pode dizer: "Ah! Dava muito trabalho pensar com meu próprio cérebro, por isso eu passei a decisão para o Padre (Pastor, Imã, Rabino, Guru, Pai-de-Santo, etc.)".

Aí, meu chapa, você vai ouvir o que todo o mundo sabe, nessa vida daqui mesmo, mas finge que não: você pode delegar autoridade, mas não pode delegar responsabilidade!

E o que esta churumela toda tem a ver com ciência? Tudo e nada. Tudo se você é do tipo que acredita textualmente na "letra" do "Livro Sagrado" (como eu sou Umbandista, fica pior ainda: é tudo tradição oral e, como vem de diversas nações africanas diferentes, cada uma com sua própria tradição, é contradição que não acaba mais...), a ciência é uma blasfêmia. Como diz São Paulo (não gosto do Santo, nem da cidade): "Toda a sabedoria humana é loucura aos olhos de Deus". Todo Judeu, Cristão e Muçulmano sabe que:
No princípio Deus criou o céu e a terra. A terra, porém, estava vazia e nua; e as trevas cobriam a face do abismo; e o espírito de Deus era levado por cima das águas (que águas?).

Deus disse: Faça-se a luz; e fez-se a luz. E Deus viu que era boa; e dividiu a luz das trevas (realmente, um universo pisca-pisca não era "uma solução elegante").

E chamou a luz de dia, e às trevas noite; e da tarde e da manhã (nesta ordem — pudera: Ele ainda não tinha criado os relógios) se fez o dia primeiro.
Disse também Deus, Faça-se o firmamento no meio das águas e separe umas águas das outras águas [vamos parar por aqui...]

Algum teólogo pode me explicar, por favor, quem criou as águas?

Aquelas nas quais Deus boiava... Aí, seus cientistas panacas: antes de existir o primeiro fóton que fosse, já as moléculas de H2O estavam por aí... E olha que eu só citei, e de maneira incompleta, os dois primeiros versículos do Gênesis.

Eu prefiro a versão na qual Olorum encarregou Oxalá de criar o mundo. Mas Oxalá era bem chegado a um vinho de palmeira e seu irmão sacana, Exu, deixou um jarro bem cheio no caminho de Oxalá. Não deu outra: Oxalá tomou um porre e dormiu. Quando Olorum veio ver se o mundo tinha ficado pronto, Exu ficou com medo, pegou os planos e saiu criando o mundo. Como ele não tinha a mesma habilidade de Oxalá, saiu tudo com um defeitinho. Aí, Olorum percebeu a tramóia e encarregou Oxalá de cuidar do mundo que ele, se fosse menos beberrão, deveria ter criado. Só que a primeira oferenda tem que ser feita a Exu, senão ele bagunça tudo mais ainda (afinal, Oxalá é o Engenheiro Responsável, mas o Mestre-de-Obras foi Exu; ele é quem sabe onde estão os defeitos...)

Mitos são isso: historinhas bonitinhas para "explicar" aquilo que nós não conhecemos a explicação. Tão úteis como Papai Noel e o Coelinho da Páscoa. Ou como o Passarela ser técnico de time brasileiro. Serve para enganar trouxa, ou a torcida do Corinthians (droga! eu estou me repetindo...).

Aliás, essa é a diferença do cientista e do místico: o cientista, quando não sabe algo, vai observar e experimentar (se bem que alguns que usam esse galardão, vão mesmo é montar um modelo matemático que comprove seu "achismo"...); o místico, inventa uma historinha e "explica" qualquer coisa, com "poderes ocultos", mistérios e dogmas ("É assim, porque Deus me disse, pessoalmente, em uma carta, com firma reconhecida, que eu não posso mostrar para vocês, ímpios, que é assim, e quem não acreditar vai para o Inferno, se não for para a fogueira antes!").

Será que a desmistificação dos mitos invalida a crença em que o Universo tem um propósito e que nós, seres humanos, temos um papel a desempenhar nesse propósito? Eu acho que não. Por outro lado, propor que a ciência se ocupe em "provar" a existência ou não-existência desse propósito é uma tolice.

A ciência tem que se ocupar com aquilo que existe (ou seja, que pode ser medido, pesado ou contado, mesmo que indiretamente). Um Criador de tudo o que existe (os buddhistas não acreditam em um Criador: para eles o Universo todo é uma ilusão "impermanente") teria, necessariamente, que estar, pelo menos em parte, fora do Universo. Então, quando um ateu me diz: "Deus não existe!", eu dou plena razão a ele; o "Deus" que eu aceito, transcende a noção de "existência". Se o Universo for ℵn, Deus será ℵ.

Se eu acredito em milagres: claro! Só que minha definição de milagre é: uma seqüência de eventos de baixíssima probabilidade, em uma ordem de ocorrência de baixíssima probabilidade.

E, para acabar de vez com a discussão, eu me recuso a acreditar que um Criador de um Universo tão sutil e com regras tão abrangentes, fosse ficar quebrando essas regras, só para extasiar uns caipiras de um planetinha de trampa, da periferia de uma galáxia medíocre, só para receber elogios e sacrifícios.

E, para chatear os crentes na Bíblia, o Levítico me parece direitinho um livro de receitas de Ebós. E, do jeito que Jeová gostava de um Injé (sangue sacrificial), parece que os hebreus e os africanos têm, ambos, razão: quem criou o mundo foi Exu.

Laroiê!



É LAROIÊ!

POR UMA UMBANDA SEM MEDO

Olá! Você amigo, irmão (a) de fé, umbandista sincero ou estudante espiritualista íntegro que gosta de buscar palavras, sentimentos, informações que começam azedinhas mas que se revelam de um sabor inominável, pois saber/sabor necessita de uma atitude de coragem e desprendimento para o novo, certamente aquele arroz/feijão/tutu-à-mineira/saladinha de alface, ser ainda uma refeição e tanto, muitas das veiz adicionar um azeite, um raminho de alecrim ou uma boa farofa, podem nos trazer um mundo de sensações e descobertas totalmente novos.

Mas sem deixar de conhecer os valores nutricionais do prato principal...

Este proseado todo é para mexer com seu apetite de novos ou quem sabe antigos conceitos e idéias que talvez estejam adormecidos ou mesmo que não sabemos como tornar mais saborosos.


Então faço o convite, conheça o livro e tbm o blog;



UMBANDA SEM MEDO

http://umbandasemmedo.blogspot.com/


Volume I:

http://www.4shared.com/file/49748873/b542e10e/UMBANDA_SEM_MEDO_VOL_I.html


Volume II:

http://www.4shared.com/file/49749530/f8438186/UMBANDA_SEM_MEDO_VOL_II.html


Volume III

http://www.4shared.com/file/84646633/c64bd919/UMBANDA_SEM_MEDO_VOL_III.html


Autoria? Espiritualidade e Cláudio Zeus


Quanto? DE GRÁTIS!


E o qual o único compromisso que se pede a vc ? Repassar, da mesma maneira que recebeu. DE GRÁTIS!


Por que a Umbanda possui muitos véus/mistérios sem dúvida, mas será que vc precisa e quer mesmo estar entre àqueles que só dão valor se desembolsarem grana (e assim se sentirem "donos" daquela informação) prá ter acesso ao caminhos do conhecimento ao invés de fazê-lo no trabalho diário usando seu discernimento, bom senso e inteligência?

E como sabemos, conhecimento não é sabedoria...

Garanto que você não será mais o mesmo depois desta leitura e nem verá a Umbanda com os mesmo olhos.

Leia também o artigo: SINCRETISMOS RELIGIOSOSOS NO BRASIL, de Renato Guimarães


Paz e Luz!

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Revirando os esqueletos do armário - Caio de Omulu

Olá Povo! Eis um umbandista que mereçe ser lido, admirado e respeitado por sua coerência e intelectualidade (tá gente, sou fã dele, fazer o que né?).

Vejam o que ele já escreve na página inicial do seu blog;

http://umbandasemmisterio.blogspot.com/

"Os textos dessa série, assim como todos publicados no blog, representam apenas uma opinião pessoal, alicerçada na experiência e vivência na religião; nos estudos e diversas pesquisas realizadas por mim ao longo dos meus 29 anos nessa Umbanda de todos nós. Entendam como meras reflexões minhas e como tais, podem sofrer alterações, acréscimos, serem abandonadas no seu todo ou em parte e finalmente substituídas por outras a qualquer tempo. Não existe nenhuma intenção da minha parte em marcar doutrina, impor idéias, angariar prosélitos, ou apresentar verdades inquestionáveis. Sou apenas um umbandista de fé e um livre-pensador, como todos nós devemos ser sempre".

Segue então a transcrição de um, entre seus maravilhosos (perdoem, perdoem) artigos

Paz e Luz!

Revirando os esqueletos do armário! (Tema I)

"SANTO (ORIXÁ) É EVOLUÇÃO!"

Existe uma polêmica resistente nos meios da psicologia e até mesmo da sociologia sobre a questão de que o somos produto ou resultado do meio em que vivemos. Muitos defendem que nossa personalidade é formatada, pelas inferências sociais e psicológicas, que sofremos durante nosso dia-a-dia, principalmente no período da infância para adolescência.

Verdade, exageros ou discordâncias a parte, é fato que, em qualquer situação de nossas vidas, nos valemos de referenciais externos para formarmos nossa opinião, bem como, os nossos relacionamentos influenciam de alguma forma.

Assim, como na vida em geral, assim, como nos setores e áreas de nossos interesses e convivências, tais quais, o lado profissional, o religioso, o social, o familiar e o amoroso.
Como este blog é voltado para assuntos da religião e mais especificamente da Umbanda, vamos nos deter neste aspecto. Desta feita assimilamos paradigmas, assumimos posições e durante um bom tempo, ou até pela vida inteira, agimos e reagimos baseados em referências adquiridas, dogmas, crenças conscientes ou inconscientes e conclusões produzidas por ilações de motu proprio.

Essa nova série do Blog: "Revirando os esqueletos do armário", visa fazer uma releitura dos paradigmas e crenças, que fizeram o constructo da minha religiosidade.
Durante alguns anos da minha vivência na Umbanda, escutei a seguinte frase: "Santo (Orixá) é evolução".

Essa frase repetida muitas vezes, era pronunciada dentro do contexto, de que Umbanda sem Orixá e melhor ainda, sem o fundamento destes, sob a ótica dos cultos de nação, ou mesmo do Candomblé, era algo estático e que não permitia a evolução, dentro da própria religião do então umbandista.

Em outras palavras, a Umbanda evolutiva, a que proporcionaria um salto qualitativo, um upgrade no desenvolvimento do agora filho-de-santo, era aquela que envolvia em seu modus operandi e vivendi os fundamentos dos Orixás, de acordo com os ensinados nos cultos de nação, que envolvem camarinhas, feituras, saídas-de-santo etc.

É posto e é fato, que os Cultos de Nação e o Candomblé, de forma nobre e também progressiva, contribuem para evolução e o religare da fé de seus adeptos. Isto não está em discussão.

O problema surge é quando dirigentes umbandistas, adotam este discurso, para referendar o seu modo de praticar, ensinar e doutrinar na Umbanda.

Será que esta assertiva, no contexto acima explicitado, é verdade? Vejamos a luz da racionalidade e não do dogma e da imposição.

Não precisamos nos aprofundar muito, em teses e tratados, para derrubar esta assertiva. Basta lançarmos um olhar sobre a história, para que a lógica e bom senso prevaleçam.

No período pré-colonial existiam os povos indígenas, que em termos religiosos atingiu a nossa contemporaneidade com uma corruptela de seus ritos, denominados genericamente de Pajelança.

Com a chegada da era colonial e do processo escravagista, o povo africano desembarca em nosso continente, trazido a força pelos comerciantes de escravos em seus navios negreiros, como eram chamados.

Aqui recolhidos as senzalas, misturados sem nenhuma preocupação com etnia, língua ou dialeto e inclusive, não sendo respeitado afinidades familiares, sociais etc., tiveram que se adaptar as duras condições de existência em uma terra totalmente desconhecida.

Quando falamos em sincretismo religioso, devemos lembrar que os escravos tiveram no Brasil, mesmo que inconscientemente, realizar o seu próprio, tendo em vista a necessidade de perpetuar suas crenças, fé, ritos etc., independente das diferenciações que existiam em África.

Como maioria, a cultura yorubá/nagô, teve uma forte influência, e serviu para moldar ou gerar este amálgama religioso.

Inkices, Voduns e Orixás se transformaram em sinonímia, com estes últimos (Orixás) ganhando maior abrangência. Muito rapidamente, os Orixás tiveram que sofrer, para garantia de sobrevivência religiosa, um segundo sincretismo, agora devido ao Catolicismo (religião dominante e impositora), que foi a equivalência aos Santos Católicos pelo comparativo dos arquétipos, como hoje nos explica os estudiosos do assunto.

Como resultado de tudo isso, surge o Candomblé que de elementos díspares até, formatou-se para servir de molécula agregadora de toda uma situação religiosa, existente em África e que foi vilipendiada, em seus cultos originais pelass condições sub-humanas, que envolviam os escravos no Brasil.

Décadas e mais décadas separam a colônia e o império da posterior república, tendo como interstício, a Lei Áurea e a libertação dos escravos. Só de escravidão foram 300 anos.

Roger Bastide, eminente sociólogo francês, nos ensinou, que nos primórdios do Candomblé, já como uma religião instituída na Bahia, embora não oficialmente reconhecida a época, existia apenas o culto aos Orixás, sem manifestação alguma, do que é comumente chamado de eguns (espíritos que passaram por processos reencarnatórios).

Como é de domínio público, os Orixás incorporados ou bolados, como se diz no linguajar dos Cultos Afro-brasileiros, não se comunicam ou falam, apenas se manifestam e realizam suas danças ao sons do ilus ou atabaques tocados pelos alabês ou ogans. Como no início de tudo, eles continuaram sendo energias divinas ou potestades, que nunca tiveram passagem pelo Aiyê (Terra) como encarnados, vivem desde sempre no Òrun (mundo divino ou espiritual). Orixás, somente, se comunicam pelo oráculo ou jogo, seja o Ifá ou o de Búzios.

Na sequência histórica, aparecem os denominados Candomblés de Caboclo, com incorporação de entidades espirituais ou eguns, puxados pelos boiadeiros, por alguns Exus e Pombagiras e até mesmo, os Mestres de Jurema oriundos do Catimbó.
Algumas linhas de estudo imputam, que o surgimento dos Candomblés de Caboclo fomentou a sua migração para o que um dia, nos idos de 1908, foi denominado de Umbanda.

Para os umbandistas, está mais do que certo, a história é outra e está, intrinsicamente, ligada ao advento do Caboclo das Sete Encruzilhadas, da vida do seu médium Zélio Fernandino de Moraes e da sua família.

Desta forma, temos para nossa linha de raciocínio a seguinte sequência: os Orixás em primeiro lugar e depois as Entidades Espirituais ou eguns. O Candomblé, depois o Candomblé de Caboclo e na esteira da história a Umbanda.

Importante salientar que, nesta contemporaneidade, convivem ou conviveram e por isso influenciam ou influenciaram também a Pajelança, o Catimbó, o Xambá, o Toré, o Terecô, o Tambor de Minas, os Xangôs do Nordeste, entre outras.

Bom... A Umbanda surge ou ressurge (eu sou um dos que acredita na universalidade e ancestralidade da Umbanda), louvando aos Orixás, sem fundamentá-los em camarinhas, feituras, saídas-de-santo etc.

Portanto, ela (a Umbanda) é que seria a novidade sobre o que estava até então posto como religiosidade afro-brasileira, indígena e outros segmentos correlatos ou corruptelas (Candomblé, Candomblés de Caboclo, Pajelança, Catimbó etc.) e não o contrário.

Desta forma, se os Orixás fundamentados, vamos assim se referir, vieram antes, eles não podem dar um pulo para frente na história e surgirem como salvaguarda de um processo evolutivo e revolucionário em algo, que surgiu ou ressurgiu posteriormente. Este novo (Umbanda) é que na lógica, poderia sim, realizar esse papel.

Se a Umbanda (res) surgiu, no século XX, para isso ou não, é discussão e polêmica para mais de metro, como se diz. Não é o meu intuito discutir isso aqui e agora. Mas é irracional, no mínimo, querer quebrar a cronologia dos fatos e se colocar o carro na frente dos bois, apenas no intuito de referendar as práticas e doutrinas pregadas em muitos terreiros, que se denominam de Umbanda, mas que no dia-a-dia de suas práxis são cultos de nação, candomblés disfarçados ou candomblés de caboclo mal elaborados.

Costuma-se, hoje em dia, realizar um enquadramento de todos esses tipos de manifestações, ditas umbandistas, no que comumente se denominou de diversidade.
A diversidade na Umbanda existe sim, mas está compartimentalizada em determinados padrões ou parâmetros doutrinários facilmente identificáveis, naquilo que denomino de Escolas.

Para ficar no exemplo, cito como escolas entre outras tantas, a Umbanda Esotérica (que resgatou a ancestralidade da Umbanda), a Umbanda Iniciática (que ampliando o trabalho da escola esotérica, está proporcionando o sentido da universalidade da Umbanda) e a Umbanda Omoloko (que fazendo uma releitura dos cultos afro-brasileiros, caminha para um upgrade nesses ritos, catalizando-os para uma forma mais próxima a Umbanda, do que levando-os de volta aos seus ancestrais diretos, o Candomblé, o Candomblé de Caboclo e outros segmentos, como o Catimbó por exemplo).

O que me preocupa, nesse quadro, são os terreiros que vivem a situação de praticar os fundamentos de santo, no trato com os Orixás [por conta da beleza das vestes, das obrigações (camarinhas, feituras e demais ritos), sempre pagas com dinheiro, das festas (com as saídas-de-santo) sempre pomposas, verdadeiros cultos a vaidade e ao orgulho] e, no entanto, precisam também dos caboclos, pretos-velhos, crianças e exús, para gerar consultas e trabalhos, angariando com isso mais dinheiro ainda.

Geralmente, os enquadrados nessa situação se auto-denominam umbandomblés, ou mesmo se reconhecem como da Umbanda Omoloko, que destes casos passa ao largo. São esses mesmos, que um dia batiam uma Umbanda, como dizem alguns, pé-no-chão, branca ou simples e que decidiram mudar para agregar o fundamento dos Orixás, arranjando a desculpa da evolução para seus seguidores, e que hoje, taxam de catimbozinhos atrasados e de terreiros de fundo de quintal, o seu próprio passado. Porque, caridade e viver para Umbanda não traz dinheiro e nem produz os benefícios auridos de se viver da Umbanda.

Fico feliz, quando descubro que o Omoloko, tem em muitos páramos do Brasil, representantes dignos e que trabalham respeitando suas tradições, fundamentos e história. É bom ver a beleza de Cultos Afro-brasileiros, como o Candomblé, por exemplo, mantendo sua cultura religiosa intacta, fortalecendo a sua religiosidade. É gratificante, perceber como o movimento umbandista e muitos terreiros no Brasil e no mundo, tem trabalhado pelos objetivos superiores dentro da sua linha de atuação.

Óbvio ululante, que os Orixás, sejam eles tratados, com os fundamentos dos Cultos Afro-brasileiros ou com a ciência da Umbanda, serem reconhecidos como postetades e proporcionarem evolução, ou conduzirem o processo evolutivo de seus filhos.

Triste, é perceber a apropriação do alheio (fundamentos) para validar práticas questionáveis e com intenções, no mínimo, de interesses próprios, sejam eles financeiros, sejam produzidos pela vaidade, orgulho, prepotência e arrogância. Realmente, existem pessoas, que não conseguem caber dentro de si mesmas. São os desesperados, pela única causa válida na vida deles, ou seja, eles mesmos.

Tem gente que acredita, que a verdade existe, tem outras que se acham donos dela. Como também, existem os que acham que são Deus e outros, que tem certeza que o são.

Aos incautos, irmãos umbandistas, presos nesse tipo de armadilha consciencial, eu digo, estudem mais a sua religião, visitem outros terreiros, vejam o que está sendo feito e realizado até mesmo fora do seu Estado. Leiam mais, pesquisem e sobretudo reflitam, pensem e meditem, racionalizem a sua fé e questionem as suas crenças. Somente assim crescemos, amadurecemos e nos fortalecemos.

A Umbanda não precisa de fanáticos religiosos, nem tão pouco de seguidores de ególatras.

Ela precisa de gente sincera, de fé racional e praticantes do bem, do amor e da caridade.

Façam como eu, que não tenho medo de revirar os esqueletos no armário, jogá-los fora um a um e depois nem lembrar que um dia, aquela caveira sorriu para mim.

Salve Pai Caio de Omulu!