sábado, 19 de setembro de 2009

Orgulho Umbandista? Escolho Convicção!

“Orgulho de ser umbandista!” Orgulho de quê? Prefiro Convicção!

Já há algum tempo “rumino” na horta mental sobre algo que ouço e leio há mais tempo ainda, o orgulho de ser umbandista.

Quero crer que tal incentivo se deva ao fato de haver campanhas declaradas ou não de outras denominações doutrinárias/religiosas (ou não) detratando os umbandistas. Assim como o fato do próprio umbandista se expor auto-classificando outra coisa: católico, espírita, espiritualista, zen católico espírita, ascencionado ou ascensorista do astral, etc. Talvez um sintoma de esquizofrenia espiritual...

Desde o primeiro contato com tal moção à comunidade umbandista, me senti incomodado com o termo orgulho e mais ainda com os possíveis objetivos para o qual esta se apresentou necessária.

Após (e não ainda completa reflexão sobre o tema) nas idas e vindas desta maravilhosa jornada que chamamos Vida, me deparei com alguns textos que só “pioraram”, minha situação, pois elevaram a meditação.
Vamos então ao exercício de fazer a pemba trabalhar.

Li um artigo de Caroline S. Treigher (maravilhoso, honesto, autêntico, profundo) com o seguinte conteúdo:

www.papopsi.com/2009/06/orgulho.html

“O que é o orgulho? Diz o dicionário Aurélio, entre outras sinonímias: 1. Sentimento de dignidade pessoal; 2. Conceito exagerado ou elevado de si próprio. De fato, é o que usualmente denominamos orgulho, e que acreditamos, de modo geral, ser um defeito. Pelo menos quando se diz que uma pessoa é orgulhosa, não se trata de um elogio, mas uma crítica.

Entretanto, o que torna alguém orgulhoso? Será realmente a dignidade pessoal, o conceito elevado de si próprio? Acho que não. Muito pelo contrário, penso que uma pessoa orgulhosa sofre de baixa auto-estima. Pode parecer contraditório, mas se nos aprofundarmos na personalidade que normalmente se denomina orgulhosa, encontraremos, sim, um baixo conceito de si.

Ora, o orgulhoso proclama-se melhor que os demais. Para isso alega muitos fatores, que vão desde a aparência pessoal, a raça ou berço, ao brilho do intelecto. Olha os outros por cima, com um ar de superioridade implícito, como se fosse detentor de uma qualidade única, pertencente a alguns poucos privilegiados da humanidade, entre os quais, claro, está ele.

Mas tudo isso se deve a uma profunda insegurança. Ele se agarra a aspectos externos ou atributos visíveis, para alegar uma grandeza da qual intimamente duvida. Quer convencer o mundo de que é bom, superior, melhor. Talvez porque se o mundo se convencer disso, ele próprio se convença.”


Destaco este trecho:

“Ele se agarra a aspectos externos ou atributos visíveis, para alegar uma grandeza da qual intimamente duvida. Quer convencer o mundo de que é bom, superior, melhor. Talvez porque se o mundo se convencer disso, ele próprio se convença.”

É aqui que começo a questionar sobre o aclamado orgulho umbandista!

Vemos tal apelo em muitos textos, debates e discursos (eu mesmo já os fiz, “irmãos temos que mostrar quem somos!”, participei inclusive da criação da camiseta: Umbanda Eu visto esta Camisa! Quando militava na Umbanda Fest), e desde esta época dizia e tinha perfeita noção de que ao usá-la me tornava alvo, nem por isso deixei de fazê-lo ainda hoje. E prq? Retornemos ao texto de Caroline;

“Quem se sente bem consigo próprio e está seguro de suas atribuições, não precisa impor nada a ninguém. Sua consciência é o que lhe basta.”

Podemos perguntar, se assim é para quê então usar a camiseta ou uma guia exposta no pescoço ou outro adereço qualquer? Não seria por si só uma imposição, enquanto ao mesmo tempo uma demarcação, uma provocação ou ainda auto-rotulagem?

A resposta está na seguinte condição; Usar algo que nos destaque conterá sim os fatores supracitados, porém se o valor das nossas convicções tiver maior relevância que os adereços, nos destacaremos certamente muito mais pela dignidade expressada em nossos atos do que pelo reconhecimento ou o marketing sobre os mesmos.

Recordo-me de um episódio ocorrido em torno de 5 meses, estava na unidade do Poupa Tempo em Bauru, quando avistei um rapaz usando a camiseta que citei, sentindo alegria e algum orgulho, fui até ele;

“Olá! Estou vendo a camiseta, a qual Casa o irmão pertence?”

R – “Como???????”

“Vc está usando a camiseta que nasceu aqui em Bauru, vc é umbandista?”

R – “Aaaaaaahhhh tá! Esta camiseta eu ganhei num albergue lá em Campinas! Nem sei o que é isto, Umbanda.”

Tente imaginar a minha expressão de “cara de cor de cerca de burro quando foge” ao ouvir isto... É claro que procurei da maneira mais simples e sem proselitismo explicar o que é o tal isto, Umbanda.

Tempos depois me lembrei jocosamente que poderia ter agarrado o rapaz pela camiseta e vociferado: “Tú não merece usar esta camiseta, tu é moleque, tu é moleque!” tal e qual um Capitão Nascimento do terreiro, rsrsrsrsrsrsrsrs

Neste ponto recomendo a leitura do texto do Sr. Gregório Brandão, Dirigente do CUCA;

http://soufelizporserumbandista.blogspot.com/2009/09/o-umbandista-verdadeiro-e-o-umbandista.html

Continuando...

Quem está convicto de sua fé ou de seus ideais (convicção: estar convencido por fatos ou raciocínio), aplica em si mesmo, torna-se o reflexo vivo daquilo que lhe dá sentido e razão de viver.

“Não seria esta a postura de quem realmente possui uma elevada auto-estima?” repito em coro com Caroline.

Não digo que não seja preciso acionar os recursos necessários quando ocorrem abusos intoleráveis, agressões, etc. Mas tampouco é cabível que as leis que visam à liberdade religiosa sejam buscadas tão somente como aporte de direitos e benesses de uns que se posicionam como eternos “perseguidos” e o capítulo sobre deveres seja esquecido ou relegado aos “perseguidores”.

Quem será mais digno de pena, quem se coloca como perseguidor ou quem se aceita como perseguido?

Por isso ao invés de orgulho, tenhamos convicção!

Mas para isso é necessário, como diz o texto do Sr. Gregório Brandão: “O UMBANDISTA VERDADEIRO realmente acredita naquilo que professa” / “É aquele médium interessado, que sempre busca aprender mais, questionar mais, buscando compreender melhor como funciona sua religião e a espiritualidade.”

Ao invés de orgulho, tenhamos convicção do prq estamos na Umbanda.

O que não dá mais é; umbandista que tem medo de espíritos ou da própria sombra;

Que discursa, no real ou virtual “Umbanda é Paz, Amor, Caridade, Fraternidade, União,Humildade”, mas se houver contrariedade ou divergência, acusa, difama, desdenha, apunhala, ofende, “demanda”. Não prq o antes “irmão” agora convertido “adversário” ou “pedra no sapato” possa ter agido assim e “justificado” a reação, mas tão somente prq este ousou com argumentos e inteligência demonstrar que o castelo que parecia sólido se esfumaçou;

Acredita que É o cargo que ocupa e por isso TEM QUE receber todas as honras e saudações, aplausos e submissão ao seu paramento e não que ESTÁ neste como condição temporária e probatória necessária ao seu crescimento espiritual;

Incensa o Sr. Zélio de Moraes e o Sr. Caboclo das Sete Encruzilhadas prq fica bem ou é de bom tom (100 anos, festa, batuque, flashes, microfone, palavras de ordem, que beleza!!!!) mas não procura conhecer, compreender e seguir seus ensinamentos. Basta saber o “registro histórico” que tá muito bom, afinal de contas estão ultrapassados (assim como os outros antigos...) e agora temos evoluções teológicas;

Não incensa o Sr. Zélio e o Sr. Caboclo e isso lhe arroga o direito de inverter, manipular, menosprezar, aviltar seu legado e assim validar “minha Umbandinha”, “a Umbandinha que pratico”, “a minha verdade” (não é menosprezo meu, é assim que muitos escrevem numa pretensa aura de humildade e simplicidade);

Não assumir na denominação a vertente umbandista que pratica (Angola, Cristã, Esotérica, Branca, Omolocô,etc.) por desconhecimento de sua raiz ou prq é mais garantido se resguardar no velho chavão “Umbanda é uma coisa só!”, assim como encaixar outro lema “toalha da diversidade”;

Se recusar a conhecer e estudar a Doutrina Espírita / Evangelho como cabedais iluminados de aprimoramento interior (ah! mas são doutrinas “brancas”), mas que precisa fazer de tudo para se achegar aos Cultos de Nação e desta forma se sentir “africanizado”, “de volta às raízes”. Mas o máximo que muitos vão conseguir é se “achegar” mesmo, pois qdo começam a querer estudar de verdade sobre, percebem que a conversa é outra, bem mais séria e profunda e aí não dá mais para sustentar que Orixá na Umbanda e no Candomblé são “tratados da mesma forma”, “feitos aqui de um jeito mais leve e lá com mais fundamento”, entre outras coisas (salvo se permanecer em permanente estado esquizofrênico espiritual...).

A série de textos do Cláudio Zeus, Umbanda e a Torre de Babel esmiúça com notável propriedade o tema.

http://umbandasemmedo.blogspot.com/

Ao invés de orgulho adereço de camelô, tenhamos a convicção prisma, pela qual cada um seja instrumento de reflexão da Luz onde quer que esteja. Mesmo prq é assim de todo modo: “A boca fala do que o coração está cheio!” “Onde estiver seu coração, aí estará o seu tesouro!”, “Vós sóis o sal e a luz do mundo, se o sal perder o sabor e a luz estiver escondida, prá que servirão?”

“A dignidade pessoal não vem de fora ou da aprovação dos outros, mas de dentro, do conhecimento e aceitação de si mesmo, com defeitos e virtudes. Vem de uma segurança do próprio valor que não faz desejar ser o que não se é. E de um auto-amor que faz querer ser melhor, não para ofuscar os outros ou porque não se sinta merecedor de respeito e consideração, mas para realizar plenamente o potencial humano.

Já dizia Shakespeare: “Que obra de arte é o homem!” e, antes dele, Jesus: “Vós sois deuses!” Tudo o que precisamos é tomar posse de nossa natureza divina.

Somente o reconhecimento desta natureza confere calma, resistência pacífica, humildade. Não orgulho. O orgulho é uma mentira, e jamais constituirá a base da verdadeira dignidade. ”


Orgulho por ser umbandista? Eu não tenho! Eu tenho é convicção. E sigo minha caminhada com olhos e o coração cheios de esperança e alegria por poder estar "estagiando" nesta Escola da Vida Maior, onde Jesus é o Mestre Maior, os Orixás-Espíritos são manifestações de Deus que se derrama em tantas quantas fontes de Amor lhe é possível, justamente prá nos dizer o quanto nos Ama.

Afinal, é esta mesma Umbanda, a Mestra que me ensina a não se enquadrar em definições passageiras, mas sim a buscar a sua essência, eterna e imutável.

Não me cansarei jamais de repetir as palavras de minha Mãe Espiritual de Terreiro, Mãe Benedita que com sua paciência, dignidade e amor formaram o filho de fé que hoje sou, ainda que as tenha “esquecido” algumas vezes e batido cabeça em ilusões:

“Num crio meus fio prá ficá de agarrado na barra de minha saia, quero eles tudo di pé pelas própias pernas de cabeça erguida!”

Aqui to eu minha Mãe, batendo cabeça prá Senhora e prá Jesus!

"Bate cabeça, filho de Umbanda!
Pede força ao nosso Pai Oxalá,
Bença Mamãe, Bença Papai
Filho de Umbanda tem Côroa de Oxalá
Com a mão direita se toma a benção,
Com a mão na pemba vem saudar seus Orixás!"

Paz e Luz!

domingo, 6 de setembro de 2009

Umbanda e a Torre de Babel - Parte IV

CONTINUANDO SOBRE O TEMA ORIXÁS

Comecemos pelo que seria Orixá pelo lado dos Candomblés que, como já expliquei, são, em resumo, adaptações de diversos CULTOS A ORIXÁS AFRICANOS, INKICES E VODUNS, dependendo da tradição que as Roças, Ilês, Abaçás, etc., sigam.

Por que usei o termo ORIXÁ AFRICANO? Ora, por que ...

Isto já está e estará mais ainda, implícito no contexto daqui pra frente.

Três correntes básicas: Uma que diz serem os Orixás Encantados ou Espíritos da Natureza (neste caso Espíritos Elementais), outra que diz serem as próprias manifestações da Natureza (trovão, raios. fogo, águas, etc.) e outra mais ainda que diz serem Ancestrais Divinizados, também Encantados porque não chegaram a morrer, mas foram, de certa forma, "transformados" de humanos para divindades.

Mas .... (e esse mas tem eró ou awô) ao mesmo tempo, consideram "receber", "incorporar" ou entrar em ESTADO DE ORIXÁ (o que neste caso poderia ser entendido como um transe anímico, nada espiritual ou mediúnico) após as devidas "feituras".


Como ninguém incorpora, recebe ou entra em "estado de" qualquer tipo de Força da Natureza ou, em outras palavras, ninguém recebe, incorpora ou entra em estado de vento, fogo, trovão, etc., cai por terra, acredito eu, a hipótese de serem essas entidades incorporantes, qualquer tipo de Força da Mãe Natureza.

E para quem conhece mais a fundo os rituais de "feituras" nas diversas tradições, comparando-os aos rituais de criação de Elementais Artificiais nas diversas Escolas Ocultistas, verá que praticamente as bases são as mesmas. Além disto, sabe-se que essas entidades incorporantes a que também chamam "orixás" (o "meu" orixá, como costumam dizer) são totalmente particulares e intransferíveis, o que significa que não "baixam", incorporam ou colocam em "estado de" mais ninguém que não seja a própria pessoa que fez o pacto tendo-os "feito" ou criado em parceria com seus Babás ou Yayás.

Importante que se diga aqui que o ritual de "feitura" é considerado o ritual de "NASCIMENTO" do ORIXÁ PESSOAL, ou seja: é por esta ritualização que esse tipo de orixá nasce e passa a acompanhar o seu Yawô, protegendo-o até o fim da vida, ocasião em que é separado dele ou dela pela cerimônia do AXEXE.


Comparando essas características às de Elementais Artificiais criados nas seitas ocultistas, veremos semelhanças indiscutíveis – eles costumam ser criados para acompanhar e proteger o "mago" e devem, ou deveriam ser "despachados", desagregados, por ocasião do falecimento.

Se é coincidência ou não, deixo a seu cargo concluir. Se tiver vidência, melhor ainda.

Sob esse aspecto, qualquer umbandista que diga que "recebe" esse mesmo tipo de "Orixá Africano", só pode mesmo é estar errado pois, como já disse antes, esse tipo de "orixá" não nasce, se cria ou é feito sem ejé. E volto a afirmar que qualquer um que diga que sim, ou está totalmente enganado por "novos conceitos" que se espalham bizarramente (com insolência e arrogancia) ou está, subliminarmente, querendo passar atestado de bobo para qualquer praticante das raízes africanas de verdade.

Já pensou, você que conhece os rituais de "feitura", se os neo-umbandistas "receberem de verdade" esses mesmos "orixás" sem aqueles rituais e aqueles sacrifícios pessoais?

Brincadeira, não é não?

Aí, quando são "xoxados" (gozados) pelos africanistas, querem pular que nem pipocas em panela quente achando um ultraje a seus "conhecimentos", ritualizações e práticas.

Irmãos Umbandistas, mas Umbandistas mesmo, parem com isto!

Querem "receber" ou ostentar Orixás de Nação ou Africanos? Então sejam humildes, saiam da Umbanda e vão "fazer" seus orixás em uma boa Casa de Nação e depois, por experiência própria, voltem dizendo se é a mesma coisa. Vocês não sabem o que estão falando quando dizem ser "tudo a mesma coisa", apenas cultuados por formas diferentes.

Mas não é dar só um borí não! É "fazer o santo" meeeesmo!!!

Desculpem-me mas alguém tem que lhes dizer isto para que acordem os que puderem e quiserem!

Saindo dos Orixás Particulares (os que "descem" nos médiuns) e passando ao conceito de Orixá = Forças ou Elementos da Natureza, há aqueles que crêem poderem oferendar esses elementos com objetos materiais no intuito de "estarem de bem" com esses elementos ou forças e com isto alcançarem seus objetivos, normalmente também particulares.

Mas aqui entre nós. Será que vento, água, trovão, etc., vai receber em oferenda qualquer tipo de objeto material, mesmo uma flor que seja? Já pensou numa "arriada" pra fazer chover ou parar o trovão? Ou para pedir que uma pedreira não role sobre a casinha que você comprou sob risco?

Que tal dar flores às águas achando que Yemanjá é a própria água do mar e não um ser elemental ou divinizado que pode até controlar essas águas, conforme o conceito a nós passado, lá em cima, pelo escritor Pierre Verger?

A não ser por muita insistência, fica difícil entender ou aceitar esse conceito de que Orixás são os próprios Elementos ou Forças da Natureza e ao mesmo tempo quererem oferendá-los sob qualquer circunstância ... Ou não?

E agora vamos falar do conceito Orixás = Espíritos da Natureza, Encantados, Elementais Naturais neste caso.

E aí, os de pouquíssimos conhecimentos sobre o Universo Elemental, ao se depararem com essa possibilidade, que para mim é a menos fantasiosa, aparecem com aquela "base literária" apreendida dos livrinhos de contos de fadas que provavelmente lhes chegaram às mãos em algum período de suas vidas ou até mesmo lhes foram lidos por seus genitores, perguntando, em tom galhofeiro se os Orixás, então, seriam os silfos, salamandras, gnomos, elfos...

Lembrando que estamos falando de Orixás NÃO pessoais e NÃO incorporantes ou NÃO rodantes (como dizem os dos Candomblés), os chamados Espíritos da Natureza ou Espíritos Elementais existem em número e classificações não contáveis e sim: nas Seitas e/ou Escolas Ocultistas são tidos como os controladores das Forças da Natureza ou dos Elementos da Natureza, exatamente o que dizem sobre Orixás aqueles que os crêem como Encantados ou Espíritos da Natureza.

Mais uma coincidência? Será?

Só que essa "coincidência" nos permite entender melhor o porquê de alguns acharem que oferendando às Forças da Natureza estarão oferendando aos Orixás, sendo que, naturalmente, estão mesmo é oferendando aos Elementais que atuam sobre esta Natureza, mesmo que não se dêem conta disto!

Seria muito bom se antes de levarem certas idéias pelo lado da galhofa, procurassem estudar um pouquinho mais sobre esses tipos de Espíritos Naturais e depois fizessem comparações com o que se diz dos Orixás quando o conceito é o de que são Espíritos da Natureza, conceito este também muito difundido.

Ah! Você não acredita em Elementais e por isto não aceita que os Orixás não rodantes cultuados pelos Candomblés como Espíritos da Natureza sejam exatamente eles?

Como eu disse antes, acreditar ou não é problema particular de cada um. Só não se pode é negar sem ter pesquisado a possibilidade, tendo entrado antes "de cabeça" nos estudos sobre o tema. Afinal de contas, não é preciso nem que você acredite que existam Orixás!!!
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AGUARDEM
NA CONTINUAÇÃO, ORIXÁS SOB A ÓTICA DA UMBANDA ORIGINAL
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terça-feira, 1 de setembro de 2009

Umbanda e a torre e Babel - Parte III - CONCEITOS SOBRE OS ORIXÁS

Falando sério, esse assunto é por demais confuso na cabeça da grande maioria de umbandistas, não umbandistas e até mesmo candomblecistas que ora dizem ser orixás uma coisa, ora outra ...

O que acontece, na verdade, é que o termo, o vocábulo, a palavra O – RI - XÁ, antes de domínio Iorubá (Nagô) apenas, com o advento, principalmente dos Candomblés e das Umbandomblés acabou se popularizando e, de uma forma tal, que hoje em dia possui diversos significados.

E aí ... pra quem freqüenta a Internet, em diversas Comunidades de debate, onde se apresentam pessoas com as mais diversificadas "conclusões" sobre terminologia aplicada e suas pseudo-raízes, quando o tema a se debater é "ORIXÁ", percebe-se que enquanto uns estão tentando escrever sobre as entidades que "baixam" nos blés, outros estão tentando fazer o mesmo sobre os elementos e elementais da natureza, outros ainda sobre as energias cósmicas que seriam as responsáveis pela vida na Terra, de forma que se criam verdadeiras Torres de Babel, nesses debates em que ninguém se entende.

Como disse antes, a palavra ORIXÁ, no Brasil, foi trazida pelos Nagôs com o significado de DIVINDADES A SEREM CULTUADAS, em princípio, sendo possível depois, por ritualísticas próprias, marcarem presença através do que chamam de "feitura", junto a seus eleguns (os que são montados) e/ou vodunsis, acompanhando-os, então, até o final da vida.

Mas mesmo entre os Nagôs essa palavra designa "coisas diferentes, pois enquanto uns os têm como DIVINDADES NUNCA ANTES ENCARNADAS, outros os têm como ANCESTRAIS DIVINIZADOS, ou seja, para esses últimos os "orixás" seriam Espíritos Ancestrais que teriam se ENCANTADO e alcançado esse posto – "Orixá".

Vejamos este trecho de Verger em seu livro "Orixás": "O orixá seria, em princípio, um ancestral divinizado, que, em vida, estabelecera vínculos que lhe garantiam um controle sobre certas forças da natureza, como o trovão, o vento, as águas doces ou salgadas, ou, então, assegurando-lhe a possibilidade de exercer certas atividades como a caça, o trabalho com metais ou, ainda, adquirindo o conhecimento das propriedades das plantas e de sua utilização o poder, axé, do ancestral-orixá teria, após a sua morte, a faculdade de encarnar-se momentaneamente em um de seus descendentes durante um fenômeno de possessão por ele provocada.(1)

Observamos acima que os Orixás seriam SERES HUMANOS capazes de controlar as Forças da Natureza, mas NÃO SERIAM AS FORÇAS DA NATUREZA em si.

Observemos abaixo mais esse trecho porque percebemos também, nas "rodas de debate" uma confusão incrível quando alguns pretendem ser o Candomblé uma Seita ou Religião de Origem Africana quando é "brasileirinho da Silva".

Observe, principalmente, que esse panteão de "Orixás" reivindicado pelos Candomblés Keto foi criado aqui mesmo, já que lá na África, até os dias de hoje, grupamentos que cultuam Oxum, por exemplo, sequer conhecem Yemanjá ou, como afirma Verger logo abaixo, Xangô, festejado como o Rei do trovão no Candomblé, assim é por escolha, já que em grupamentos como de Ifé ele sequer é conhecido, assumindo o lugar de Deus do Trovão outro "Orixá" de nome Oramfé.

"...ainda não há, em todos os pontos do território chamado Iorubá, um panteão dos orixás bem hierarquizado, único e idêntico. As variações locais demonstram que certos orixás, que ocupam uma posição dominante em alguns lugares, estão totalmente ausentes em outros. O culto de Xangô, que ocupa o primeiro lugar em Oyó, é oficialmente inexistente em Ifé, ou de um deus local, Oramfé, está em seu lugar com o poder do trovão. Oxum, cujo culto é muito marcante na região de Ijexá, é totalmente ausente na região de Egbá. Iemanjá, que é soberana na região de Egbá, não é sequer conhecida da região de Ijexá.

A posição de todos estes orixás é profundamente dependente da história da cidade onde figuram como protetores. Xangô era, em vida, o terceiro rei de Oyó. Oxum, em Oxogbô, fez um pacto com Larô, o fundador da dinastia dos reis locais, e em conseqüência a água nessa região é sempre abundante. Odudua, fundador da cidade de Ifé, cujos filhos tornaram-se reis das outras cidades iorubás, conservou um caráter mais histórico e até mesmo mais político que divino.

Alguns orixás constituem o objeto de um culto que abrange quase todo o conjunto dos territórios iorubás, como, por exemplo, Òrìsàálá, também chamado Obàtálá, divindade da criação, estende-se até o vizinho território do Daomé, onde Òrìsàálá torna-se Lisa, e cuja mulher Yemowo tornou-se Mawu, o "deus supremo" entre os Fon, ou então Ògún, deus dos ferreiros e de todos aqueles que trabalham com o ferro, cuja importância das funções ultrapassa o quadro familiar de origem. Algumas divindades reivindicam as mesmas atribuições em lugares diferentes Sàngó, em Oyó; Oramfè, em Ifé; Airá, em Savé. São todos senhores do trovão. Ògún tem competidores, guerreiros e caçadores em diversos lugares, tais como: Ija em torno de Oyó, Òsóòsi em Kêto, Òre em Ifé, assim como Lógunéde, Ibùalámo e Erinlè na região de Ijexá. Osanyìn entre os oyó desempenha o mesmo papel de curandeiro que Elésije em Ifé. Aje Saluga em Ifé e Òsúmáré mais a oeste são divindades da riqueza."(2)

E se esse assunto já é meio complicado para quem nos trouxe o vocábulo Òrìsà (que aqui virou Orixá), imaginemos então entre aqueles que acabaram se apropriando do vocábulo – e apenas dele – dando-lhes outros diversos significados.

Vamos voltar a 100 anos atrás (1908), quando o Culto de Umbanda foi criado (ou anunciado) pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas e, apelando para o que se tem de testemunhos escritos e gravados, vamos ver que na UMBANDA ORIGINAL não havia qualquer tipo de Culto a "Orixás" - como não existe até hoje na Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade, a primeira Tenda de Umbanda fundada pelo Caboclo e que se mantém até hoje trabalhando nos mesmos moldes.

Em 1933 o escritor Leal de Souza, aquele que primeiro escreveu e publicou qualquer coisa sobre UMBANDA, já dividia os grupamentos de Espíritos trabalhadores da Umbanda em Espíritos de SETE LINHAS, como já foi explicado em outro volume, inclusive uma dessas LINHAS chamando-se LINHA DAS ALMAS (ou DE SANTO), absolutamente nada tendo de semelhança ao culto a Obaluaiê/Omolu que foi inserido muito após por aqueles que se auto-rotularam de Umbandas mesmo mantendo em seus cultos as práticas e princípios das ritualísticas de cunho africano.

Nesta época assim nos explicava Leal de Souza sobre o que seriam Orixás para a Umbanda Original que também era chamada de Linha Branca de Umbanda e Demanda:

"O Orixá é uma entidade de hierarquia superior e representa, em missões especiais, de prazo variável, o alto chefe de sua linha. É pelos seus encargos, comparável a um general, ora incumbido da inspeção das falanges, ora encarregado de auxiliar a atividade de centros necessitados de amparo, e, nesta hipótese fica subordinado ao guia geral do agrupamento a que pertencem tais centros.

Os Orixás não baixam sempre, sendo poucos os núcleos espíritas que os conhecem. São espíritos dotados de faculdades e poderes que seriam terríficos, se não fossem usados exclusivamente em beneficio do homem. Em oito anos de trabalhos e pesquisas, só tive ocasião de ver dois Orixás, um de Euxoce (Oxóssi), o outro de Ogum, o Orixá Mallet."(3)

Repare bem você que para a Umbanda Original, Orixás eram ESPÍRITOS HUMANOS com certas peculiaridades em essência e não ELEMENTOS ou ELEMENTAIS da Natureza, e sequer ANCESTRAIS DIVINIZADOS, conceito este que se estende até hoje em boa parte das Umbandas NÃO AFRICANIZADAS.

Uma outra Corrente entende como Orixás, não qualquer tipo de Espírito seja ele humano ou elemental, mas sim ENERGIAS criadas pelo desdobramento ou divisão da Energia-Mãe ou DEUS, como queiram e mesmo usando o termo Orixá para a elas se referirem (por ser o mais comum) compreendem-nos como ENERGIAS DE RAÍZ ou VIBRAÇÕES ORIGINAIS, ambos os termos tendo como significado essas energias provenientes de DEUS, atuantes diretamente sobre todos, ou parte constitutiva da essência de todas as formas de vida, não só da Terra como do Universo.

Só por esses conceitos totalmente díspares, já dá pra perceber o porquê de não se poder discutir ORIXÁS tendo conhecimento de apenas "um lado do prisma".

Mas vamos TENTAR esmiuçar um pouquinho mais, tentando também dar subsídios aos seguidores dessas correntes de diferentes pensamentos para que entendam, finalmente, que, sendo os conceitos para Orixá totalmente subjetivos (assim como o conceito sobre o próprio DEUS ou DEUSA, quem sabe?), a aceitação final será sempre PARTICULAR e de acordo com o que mais se adaptar a cada mente pensante.

CONTINUA

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(1) e (2) Trechos do Livro "Orixás" de Pierre Fatumbi Verger
(3) Trechos do livro "O Espiritismo, a Magia e as Sete Linhas de Umbanda" do escritor Leal de Souza

Postado por CLAUDIO ZEUS : Segunda-feira, Agosto 31,2009


Obs: Negritos e Cores adicionados ao texto original por Edenilson Francisco, sem otorização do Cláudio Zeus que certamenet vai me fazer pagar umas 30 novenas perpétuas, rsrsrsrsrs


Paz e Luz!