domingo, 13 de fevereiro de 2011

Entrevista com Leal de Souza

Entrevista com Leal de Souza, publicada no "Jornal de Umbanda" de outubro de 1952, com o título de UMBANDA - uma Religião típica do Brasil.

"Leal de Souza, poeta, escritor e jornalista e um dos mais antigos umbandistas do Brasil. Dirige a Tenda N. Sª da Conceição, considerada por José Álvares Pessoa, uma das Tendas mestras".

Diz Leal de Souza: - "A Linha Branca de Umbanda é realmente a Religião Nacional do Brasil, pois que, através dos seus ritos, os espíritos ancestrais, os pais da raça, orientam e conduzem a sua descendência. O precursor da Linha Branca foi o Caboclo Curugussu, que trabalhou até o advento do CABOCLO DAS SETE ENCRUZILHADAS que a organizou, isto é, que foi incumbido, pelos guias superiores, que regem o nosso ciclo psíquico, de realizar na terra a concepção do Espaço. Esse espírito une a intransigência à doçura. Quando se apresentou pela primeira vez, em 15 de novembro de 1908, para iniciar a missão. mostrou-se como um velho de longa barba branca; vestia uma túnica alvejante; que tinha em letras luminosas a palavra CARIDADE.

Depois, de longos anos, assumiu o aspecto de um caboclo vigoroso; hoje é uma claridade azul no ambiente das Tendas. A sua missão é, portanto, a de preparar espíritos encarnados e desencarnados que deverão atuar no espaço e na terra, na época futura em que ocorrerá um acontecimento da importância do advento de Jesus no mundo antigo. O CABOCLO DAS SETE ENCRUZILHADAS chama Umbanda os serviços de caridade, a demanda os trabalhos para neutralizar ou desfazer os da magia negra. A organização da Linha é um primor minucioso. Espanta a sabedoria dos espíritos que se apresentam como caboclos e pretos velhos a que são tanto mais humilde e quanto mais elevados. Em geral, as pessoas que frequentam as sessões, não as conhecem na plenitude da sua grandeza, porque tratam do seu caso pessoal, sem tempo para outras explanações. O CABOCLO DAS SETE ENCRUZILHADAS, que é dotado de rara eloquência, quando se manifesta em público, costuma adaptar a sua linguagem à compreensão das pessoas menos cultas, que consideradas como sendo as mais necessitadas de conforto espiritual. Foi esse espírito que há vinte anos, conforme ficou apurado num inquérito policial, reproduziu o milagre do Divino Mestre, fazendo voltar á vida, uma moça cuja morte fora atestada pelos médicos. PAI ANTÔNIO, o principal auxiliar do Caboclo das Sete Encruzilhadas, e que baixa pelo mesmo aparelho, ZÉLIO DE MORAES, e que eu já vi discutir medicina com os doutores. É o espírito mais poderoso do meu conhecimento. A seguir, Leal de Souza referiu-se a outras Entidades que baixaram em Tendas de Umbanda: na Tenda São Jerônimo, há entre outros, dois espíritos de grande poder e vasta ciência, que utilizam o mesmo aparelho, Anísio Bacinca; pai João da Costa do Ouro e o Caboclo da Lua. Este, quando saiu da minha Tenda para fundar a de Xangô, estava ditando a um oficial do Exército um livro sobre o "Império dos Incas".

O chefe do Terreiro da Tenda de Oxalá é Pai Serafim e seus trabalhos tem produzido milagres; baixa por Paulo Lavoir, médium como não há muitos. Pai Elias, baixa pelo doutor Maurício Marques Lisboa, presidente da Tenda Filhos de Santa Bárbara. É velhíssimo e sapientíssimo. Segundo outros guias, esse espírito numa de suas encarnações, foi Sumo Sacerdote da Babilônia e depois Papa, em Roma, para chegar como preto-velho no terreiro de Umbanda. Nota-se que Pai Elias foi Sumo Sacerdote, mas o seu aparelho não é Sumo Sacerdote de Umbanda. O individuo que se envaidece desse título seria um doente de vaidade e morreria de ridículo... Catumbé, da Tenda São Miguel, baixa por  Luiz Pires: é filósofo e alquimista. Pai Vicente, que baixa pela Sra. Corina da Silva, presidente da Tenda de Pedro, na Ilha do Governador, é um espírito de um saber profundo, que abrange a literatura, a filosofia de todos os tempos. Os seus trabalhos produzem efeitos miraculosos.

Citei apenas alguns espíritos de meu conhecimento, pois como esses, os há em todas as Tendas. Não esqueçamos que o labor desses espíritos tem duas finalidades: atrair a criatura e ensiná-la a amar e a servir o próximo. Com sua manifestação, pelo corpo dos médiuns, provam a imortalidade da alma e os benefícios que fazem, servem para elevar o beneficiário, pela meditação ao culto e ao amor ao Deus e, portanto, a prática de suas leis"

Retirado do livro "Umbanda e o Poder da Mediunidade", Matta e Silva, 3ª edição revista e atualizada, 1987, Editora Freitas Bastos.