sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Minh'alma, de sonhar-te, anda perdida


Minha alma é disputada todos os dias,
os defensores dos animais querem que eu sinta como eles próprios e os animais, assim serei um humano melhor

os vegetarianos querem que eu coma como eles, assim viverei melhor

os veganos querem que eu radicalize como eles, assim serei distoante melhor

os carnívoros querem que coma carne, e dane-se se o cheiro do churrasco me enjoa

os anticorinthianos querem que eu Campeão da Libertadores invicto, dane-se

os pedintes querem que eu os alimente todos os dias, pois isto sim é ato de um ser melhor

os ladrões querem que eu tenha dinheiro todos os dias, isto é é o melhor para eles e até certo ponto, para mim

os céticos querem que eu corroa o impalpável como suas racionalidades ácidas, assim serei menos domesticável

os cristãos querem que eu seja salvo como eles, assim serei um filho de Deus melhor ou ao menos terei garantida a herança que já era minha

os revolucionários querem que eu levante suas bandeiras, assim farei parte dos que irão mudar o mundo, e talvez serei salvo e ser melhor e estar entre os que enxergam o mundo ideal

os oprimidos do mundo querem que eu me zangue como eles, me incomode com eles e por eles e cuspa e grite e marche e manche e pinte e cause e acorde e afronte o sistema em nome da causa, mas em meio a tanta poeira, fumaça e apito já não sei qual era mesmo a causa e qual sistema se pretendia derrubar, e ai de mim com a velha mania de perguntar; Para que lado mesmo estamos indo?

os arautos da ordem e do progresso querem que eu siga suas normativas, pois sabem o que é certo como dois e dois são 4, nunca um swing, uma partida de pif paf, um jogo de truco entre duplas, um mini torneio de fifa soccer, nunca 22, nunca dois patinhos na lagoa

os traficantes querem que eu lhes aperte a mão, tendo nela dobradinha uma nota de 50 e que seja ágil e suma rápido com a garantia de ser melhor ou menos pior por, sei lá, 40 segundos

os políticos querem que eu acredite piamente que eles irão mudar o sistema administrativo que nos conforma, apenas porque seus ideais são nobres, justos e atendem aos anseio popular de que todos são iguais, mas não explicam como farão isso, sendo os desiguais

os espíritas querem que eu entenda que o pensamento é tudo e nada existe fora dele, só não sei o que Deus pensa disto, aliás... Deus ... pensa?

os umbandistas querem que eu bata cabeça aos Orixás sem questionar, pois eles sabem o que é melhor para mim e só resta acatar e louvar e louvar e louvar e louvar e girar e girar e girar e girar e bater tambor e bater tambor e bater tambor

Eu mesmo não sei o que quero com exatidão o que seria o correto ou o mais correto, 
o mais seguro e tranquilo para minha vida,

faculdade tal, emprego tal, camisa tal, posição sexual tal
nunca soube, mas fingia muito bem saber
E um dia alguém disse, quem não sabe o que quer é levado pelos que sabem
só que em meu caso, eu não soube querer o que queriam saber para mim
e faço, aos trancos e barrancos, mas faço meu próprio caminhar
já tropeçei inúmeras vezes, já desisti de receber o diploma disto e daquilo faltando uma semana
já magoei um ou dois grandes amores e os feri a ponto de irem embora para muito longe
já abusei da paciência do grande amor que vivo hoje e o fator que me diz que
é possível eu tenha salvação, é que no instante seguinte me ergo e avanço

Só quem não quer que eu diga sim ou amém ou presente ou ahá uhú são os  acanhados convites que recebo de Cecília Meireles, Rubem Alves, Fernando Pessoa, Carlos Drummond de Andrade, Niesztche, Fernando Caio Abreu, Tagore, o Cântico dos Cânticos, o Rubayat, Wagner Borges, André Luiz, Pai Tinoco, Irmã Maria Amélia

Estes e muitos outro me acenam às vezes ao longe, às vezes mais próximas 
e se decido ir ao seu encontro
a apreciação da paisagem, o aroma das matas, as ervas à beira do caminho, 
ter comigo uma garrafa dágua
ou beber no rio que passa, seguir enquanto há sol ou acender a lanterna
ficam ao meu encargo
E quando chego lá de onde me acenavam, já não mais estão
Mas e daí? 
Eu igualmente já não sou aquele que recebeu o aceno e deu o passo adiante.
Nem sempre mesmo eram eles que eu busquei, mas muito mais os seus acenos




Ps: o título do texto foi retirado do poema de Florbela Espanca;

Fanatismo

Minh'alma, de sonhar-te, anda perdida
Meus olhos andam cegos de te ver!
Não és sequer razão de meu viver,
Pois que tu és já toda a minha vida!

Não vejo nada assim enlouquecida...
Passo no mundo, meu Amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida!

"Tudo no mundo é frágil, tudo passa..."
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim!

E, olhos postos em ti, vivo de rastros:
"Ah!  Podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus: princípio e fim!..."

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Desencarne de Pai Fernando Guimarães


Recebemos a notícia do desencarne do Pai Fernando Guimarães, Dirigente Espiritual do Terreiro do Pai Maneco, Curitiba.

http://www.paimaneco.org.br/

Uma das passagens mais curiosas da vida do advogado e cartorário Fernando Macedo Guimarães ocorreu ainda na infância. Ele a contava aos risos – “eu me tornei apóstata dias antes da Primeira Comunhão”. Era um prenúncio. A religião seria o território das pequenas e grandes revoluções promovidas por este homem avesso aos arreios das convenções.

Fernando nasceu em família voltada às lides do saber. Seu pai, Acyr Guimarães, foi um dos jornalistas mais importantes do Paraná em todo o século 20, tendo atuado nas primeiras décadas da Gazeta do Povo. O filho seguiu o espírito liberal dos seus, experimentando e escolhendo seus próprios caminhos, incluindo os da fé.

Da fila da Eucaristia se mudou para as mesas do kardecismo, escola na qual foi aluno aplicado desde os 16 anos. Dali, já homem maduro, enveredou pela umbanda, enfrentando os preconceitos reservados à mais brasileira das religiões. Em pouco tempo, Fernando de Ogum, como o chamavam, iria se confundir com o Terreiro do Pai Maneco, fundado por ele e instalado nos altos do Santa Cândida. O local se tornou endereço de artistas e intelectuais, ali colocados em roda, ao lado de moradores das periferias, reunidos para ter com aquele homem de letras, entregue ao jejum e ao banho de ervas para receber o preto velho.

“Meu pai meu deu 2 mil irmãos”, resume a filha Lucília, sobre os médiuns revelados por Fernando em 30 anos de umbanda. Foi pai-de-santo como poucos. Não só lutou para derrubar os véus que escondem os cultos afro-brasileiros como batalhou para modernizá-los, abrindo-o às novas gerações. Basta dizer que o site do terreiro recebe 10 mil visitas semanais. Que Guimarães promovia giras com música jovem e incentivou as rodas de tambores, dando a seu espaço de culto também a aura de espaço de arte. Ele tirou o ranço e o medo da palavra saravá.

Deixa a mulher Yedda, dois filhos e quatro netos.
http://www.gazetadopovo.com.br/falecimentos/conteudo.phtml?tit=Fernando-de-Ogum&id=1281861#.UBqy-zwVVdY.facebook


* * * * *

Que sua luz continue iluminando a todos nós!

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Eleições 2012, um recado aos umbandistas!


Pedindo licença ao artista Charles Chaplin, tomo a liberdade de trocar algumas palavras e algumas observações, para deixar um recado aos umbandistas, referente a eleições que se aproximam.  E peço sincero ao leitor, não me julgo ou pretendo ser algum iluminado, acima do bem e do mal, mas fervorosamente um espírito em busca sim de mais luz.


"Muitos combatem a tirania apenas para que possam estabelecer a sua própria." Platão, A República


O último discurso, do filme “O Grande Ditador”


Sinto muito, mas não pretendo ser um imperador. Não é esse o meu ofício. Não pretendo governar ou conquistar quem quer que seja. Gostaria de ajudar – se possível – judeus, o gentio... negros... brancos... evangélicos. (esta a meu ver é a fala de quem pretende verdadeiramente representar aos cidadãos e não a um curral eleitoral)


Todos nós desejamos ajudar uns aos outros. Os seres humanos são assim. Desejamos viver para a felicidade do próximo – não para o seu infortúnio. Por que havemos de odiar e desprezar uns aos outros? Neste mundo há espaço para todos. A terra, que é boa e rica, pode prover a todas as nossas necessidades.


O caminho da vida e da Umbanda pode ser o da liberdade e da beleza, porém há quem o extravie.  A cobiça envenenou a alma dos homens... levantou no mundo as muralhas do ódio... e tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e os morticínios. Criamos a época da velocidade dos estudos, dos títulos, dos paramentos, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina que produz os salvadores, que parece produzir abundância, tem-nos deixado em penúria. Nossos conhecimentos encabrestados fizeram-nos céticos; nossa inteligência ofuscada pela fascinação, empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia doutrinados pelos líderes e mestres iluminados e sentimos bem pouco. Mais do que de máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido.


A internet, o rádio, a televisão, as aglomerações festivas aproximaram-nos muito mais. A própria natureza dessas coisas é um apelo eloqüente à bondade do homem... um apelo à fraternidade universal... à união de todos nós. Neste mesmo instante a voz de milhares de pessoas pelo mundo afora... milhões de desesperados, homens, mulheres, criancinhas... vítimas de um sistema que tortura seres humanos e encarcera inocentes. Aos que me podem ouvir eu digo: “Não desespereis! A desgraça que tem caído sobre nós não é mais do que o produto da cobiça em agonia... da amargura de homens que temem o avanço do progresso humano e da Umbanda de todos nós. Os homens que odeiam desaparecerão, os ditadores sucumbem e o poder que do povo arrebataram há de retornar ao povo. E assim, enquanto morrem homens, a liberdade nunca perecerá.


Umbandistas! Não vos entregueis a esses brutais... que vos desprezam... que vos escravizam... que arregimentam as vossas vidas... que ditam os vossos atos, as vossas idéias e os vossos sentimentos! Que vos fazem marchar no mesmo passo, que vos submetem a uma sedução contada e pensada, que vos tratam como gado humano e que vos utilizam como bucha de canhão! Não sois máquina! Homens é que sois! E com o amor da humanidade em vossas almas! Não odieis! Só odeiam os que não se fazem amar... os que não se fazem amar e os inumanos!


Umbandistas! Não batalheis pela escravidão! Lutai pela liberdade! No décimo sétimo capítulo de São Lucas está escrito que o Reino de Deus está dentro do homem – não de um só homem ou grupo de homens, mas dos homens todos! Está em vós! Vós, o povo, tendes o poder – o poder de criar comunidades realmente fraternas e solidárias. O poder de criar felicidade! Vós, o povo, tendes o poder de tornar esta vida livre e bela... de faze-la uma aventura maravilhosa. Portanto – em nome da democracia – usemos desse poder, unamo-nos todos nós. Lutemos por um mundo novo... um mundo bom que a todos assegure o ensejo de trabalho, que dê futuro à mocidade e segurança à velhice.


É pela promessa de tais coisas que desalmados têm subido ao poder. Mas, só mistificam! Não cumprem o que prometem. Jamais o cumprirão! Os ditadores liberam-se, porém escravizam o povo. Lutemos agora para libertar o mundo, abater as fronteiras nacionais, dar fim à ganância, ao ódio e à prepotência. Lutemos por um mundo de razão, um mundo em que a ciência e o progresso aliadas a fé lúcida e a coragem de amar incondicionalmente conduzam à ventura de todos nós. Umbandistas, em nome da democracia, unamo-nos!


Umbandistas, estás me ouvindo? Onde te encontrares, levanta os olhos! Vês, Umbandistas? O sol vai rompendo as nuvens que se dispersam! Estamos saindo da treva para a luz! Vamos entrando num mundo novo – um mundo melhor, em que os homens estarão acima da cobiça, do ódio e da brutalidade. Ergue os olhos, Umbandista! A alma do homem ganhou asas e afinal começa a voar. Voa para o arco-íris, para a luz da esperança. Ergue os olhos, Umbandistas! Ergue os olhos!


O discurso original pode ser lido aqui; http://www.culturabrasil.pro.br/chaplin1.htm