domingo, 14 de março de 2010

De onde surgem nossos monstrinhos

Estimulado por alguns fatores que convergiram na semana que passou, papos e temas, tais como cartilhas politicamente corretas, intolerância, liberdade de expressão, discursos demagógicos, alienação, etc., decidi colocar no papel uma coisa qualquer que me liberte desta certeza que quer qualquer impassível calma ou de que tudo está no seu lugar, graças a Deus!

Na verdade, já era prá ter saído há uns bons 2 anos...

Pois bem, os temas supracitados são recorrentes seja no mundo virtual e concretizado, e na busca de esclarecer, diminuir e superar as mazelas causadas pela instrumentalização destes, muita água rolou e parece vai rolar ainda. Por isso mesmo preparemos nossas boinhas...

Tempos complicados vivemos (mais ou menos, melhor ou pior que outros?), pois há tanto barulho pela garantia de direitos (e sim durante muito tempo foram negados, usurpados e impedidos) que na ânsia de “fazer valer o meus”, o que é ou seria um direito básico de todos nós, liberdade de expressão ou de livre pensar, pode ser ignorado, desvirtuado e impedido, tal e qual fizeram os ontem e atuais algozes.

Vejamos o caso da intolerância, quem é intolerante, pode-se dizer, é partidário do intolerantismo, e segundo o Aurelião: 2.” Sistema daqueles que não admitem opiniões divergentes das suas, em questões sociais, políticas ou religiosas.”

Quem será mais intolerante, quem diz não tolerar isso ou aquilo, ou quem não permite que o intolerante expresse suas idéias?

Ora, eu posso não admitir as idéias, por exemplo, dos seguidores da Fé Bahaí. Posso não admitir a prática da homossexualidade. Posso não admitir a prática da velha política do é dando que se recebe. Posso não admitir a idéia da manipulação dos anseios de uma coletividade para galgar projetos de poder.

Posso e o mais importante, tenho o direito de fazê-lo.

Mas a tal cartilha do politicamente correto não quer deixar.

Só lembrando, cartilha politicamente correta não existe uma só não, no caso somente social, mas tbm religiosa, acadêmica, filosófica, cultural, ecológica, financeira, sexual.
Seus defensores e propagadores querem e se sentem no direito de fazê-lo, me enquadrar no que alguém ou alguns projetaram como ideal evolutivo, não só para mim, mas para todos.

E ai de quem ousar exercer tal direito, rapidamente é estigmatizado com a marca de intolerante, hoje é rótulo ou apontamento muito pior do que encoxar a mãe no tanque, tirar ramela no nariz e comer, roubar oferta da igreja prá comprar cachaça prá colocar no “despacho”.

Ops! Será que vão me enquadrar por usar cacos de baixo calão, de humor negro e imagens escatológicas?

Quem sabe os apontadores, respaldados por sua luta se considerem isentos ou já purificados (mas é bem possível que se sintam assim mesmo, afinal seguem a cartilha dizendo o que é correto). Eles conhecem a verdade, e a verdade está lá fora Mulder...

Bão, onde quero chegar com estes observações, além é claro de manter vivo o direito de pensar e expressar o que penso, é buscar ir mais fundo um tanto, naquilo que considero como a força motriz não só da intolerância, mas da deslealdade, da desunião, da violência, da desigualdade social, da desumanização, da tristeza e do desalento.

Melhor até parar por aqui senão vai ficar parecendo muro das lamentações (Ops 2! Será que vão me enquadrar por ter feito uma referência a um símbolo judaico? Ou será que se eu tivesse usado de sarcasmo com um símbolo nazista ficaria tudo bem?).

Para tanto, vou me valer da citação de trechos do livro do escritor russo León Tolstói, O Reino de Deus está em Vós, escrito no final do século XIX. E como não tenho o hábito de roubar créditos dos outros, a inspiração nascida há 2 anos, como já disse, veio de um artigo escrito por Antonio Francisco Rochas em dezembro de 2007, na extinta revista (uma pena!!!!!) Nova Consciência.

O livro para download pode ser encontrado em:

Projeto Livros para Todos

http://www.livrosparatodos.net/livros-downloads/o-reino-de-deus-esta-em-vos.html

As reflexões, análises e resmungos deixo ao cuidado de quem se dispuser a ler o livro...

“Cada galho da árvore vem da raiz sem interrupção, mas disto não se pode na
verdade deduzir que cada ramo seja o único galho.”

“Pode-se não ter a mesma opinião, pode-se negá-la e provar sua inexatidão, mas, é impossível julgar uma doutrina sem haver penetrado no conceito do qual ela deriva. E, mais ainda, é impossível julgar uma tese de ordem superior colocando-se num ponto de vista inferior: julgar o alto da torre quando estamos nas fundações.”

A humanidade? Onde estão os limites da humanidade? Onde ela termina? Onde começa? A humanidade acaba, talvez, exclusivamente, no selvagem, no idiota, no alcoólatra, no louco? Se traçamos uma linha que limite a humanidade, excluindo os representantes inferiores da espécie humana, onde traçaremos essa linha? Excluiremos os negros, como fazem os americanos? E os hindus, como certos ingleses? E os judeus, como muitos outros? E se englobarmos todos os homens, sem exceção, por que admitiremos apenas os homens, e não os animais superiores, muitos dos quais são mais desenvolvidos que os representantes inferiores da raça humana?”

Toda nossa vida está em contradição constante com tudo o que sabemos e que consideramos necessário e obrigatório. Esta contradição está em tudo, na vida econômica, na vida política e na vida internacional. Como se tivéssemos esquecido o que aprendemos e posto provisoriamente de lado o que acreditamos justo, fazemos o contrário daquilo que pedem nossa razão e nosso bom senso.”

“A hipocrisia geral penetrou a tal ponto no corpo e na alma de todas as classes da sociedade atual, que nada mais pode indignar quem quer que seja. Não é à toa que a hipocrisia, em seu sentido próprio, significa representar um papel: e representar um papel, qualquer que seja, é sempre possível. Fatos como estes: ver os representantes de Cristo abençoar os assassinos que se enfileiram, armados contra seus irmãos, apresentando os fuzis para a bênção; ver os padres de todos os credos cristãos participarem, necessariamente, como carrascos, das execuções capitais, reconhecerem, com sua presença, que o homicídio é conciliável com o cristianismo (um pastor assistiu à experiência da execução pela eletricidade), nenhum destes fatos surpreende mais ninguém”

“se subsistir a hipocrisia que hoje reina, se os homens não professarem a verdade que conhecem, mas continuarem a simular a crença no que não crêem, a estima no que não estimam, sua condição não só permanecerá a mesma, como tornar-se-á pior.”

“Não sem razão a única palavra dura e ameaçadora de Cristo foi dirigida aos hipócritas. Não é o furto, o saque, o homicídio, o adultério, a falsidade, mas a mentira, a mentira especial da hipocrisia, que cancela na consciência dos homens a distinção entre o bem e o mal, os corrompe, torna-os maus e semelhantes às feras, os impede de fugir do mal e procurar o bem, lhes tira o que constitui o sentido da verdadeira vida humana e, portanto, bloqueia-lhes o caminho da perfeição. Os homens que ignoram a verdade e fazem o mal provocam nos outros a piedade para com suas vítimas e a repugnância para com eles mesmos; fazem o mal unicamente àqueles a quem atacam; mas os homens que conhecem a verdade e fazem o mal sob o véu da hipocrisia fazem-no a si mesmos e a suas vítimas, e a milhares e milhares de outros homens, tentados pela mentira que oculta este mal.”

O único meio de união é, portanto, unir-se na verdade. Por isso, quanto mais os homens procuram sinceramente a verdade, mais se aproximam da união. Mas, como se podem unir os homens na verdade ou dela se aproximarem, quando não só não exprimem a verdade que conhecem, mas consideram-na inútil e fingem reconhecer como verdade o que sabem ser uma mentira?”

“Que todo homem, na medida de suas forças, siga pessoalmente a verdade que conhece ou, ao menos, não defenda a mentira”

“Sempre podes não mentir desta forma a ti mesmo e aos outros, aliás não deves, porque o único objetivo de tua vida deve ser o de libertar-te da mentira e de professar a verdade. E bastaria que o fizesses para que a situação mudasse rapidamente, por si mesma. És livre para realizar apenas isto: reconhecer e professar a verdade.”

Finalizando com que está escrito na apresentação do livro, feita por Fr. Clodóvis Boff:

“O apelo de Tolstoi é este: Viver à luz da verdade, sem máscaras. Ele acredita que assim, à força da verdade, as relações na sociedade se transformarão. Por isso, pôs no frontispício do livro esta outra máxima: "E conhecereis a verdade e a verdade vos fará livres" (Jo 8,32).”

Ah! E se algum espertinho vier com a pergunta; “Então que é a verdade ó sábio?”

Desde já respondo; Descubra-a por vc mesmo! Quem precisa ouvir o berrante prá saber para qual lado ir é rebanho.

Ops! Politicamente incorreto de novo, eu não aprendo mesmo.

“E não temais os que matam o corpo, mas não podem matar a alma. Temei antes aquele que pode destruir a alma e o corpo (Mt 10,28).”


Paz e Luz! De verdade!

2 comentários:

João Carlos disse...

Ahá!... Plus ça change, plus c'est la même chose...

Os mesmos que reclamavam e se insurgiam contra a "hipocrisia pequeno-burguesa" das regras de etiqueta e daquilo que minha mãe chamava de "bons-modos", criaram a própria hipocrisia fundamentada em "é proibido proibir"...

Por isso eu me meti a opinar lá naquela discussão no Orkut. Todos nós chegamos a um ponto em que nos tornamos "intolerantes" – senão vira bagunça. E é muito fácil ser tolerante quando a cantada foi dirigida à mulher alheia.

Difícil é assumir a própria intolerância, principalmente quando "intolerante" virou estigma. Pois podem colar esse rótulo na minha testa: eu sou particularmente intolerante com hipocrisia e estupidez.

Edenilson Francisco disse...

Estimado João Carlos, como creio que vc já sabe, mas não custa nada registrar aqui, intolerância zero com a hipocrisia e a estupidez?

Somos dois!


Por isso mesmo temos um bom estoque de carqueja me casa não é mesmo?


Abraços!