Este texto nasceu sob a inspiração do Preto Velho que sirvo como médium (a inspiração é dele, as palavras são minhas) em apontamentos sobre Obediência, a partir da frase de Lísias no livro Nosso Lar, capítulo 45;
"Só é verdadeiramente livre quem aprende a obedecer. Parece paradoxo e, todavia, é a expressão da verdade."
Cada vez que um Guia de Umbanda “baixa” num terreiro ele traz consigo “apenas” uma imensa vontade de servir ao Alto, no que muitas vezes é denominado de missão.
Para os que estão no terreiro, até podem entender que esta lhes dirá respeito, afinal cada um veio ali para expor e resolver o “seu caso”, mas a verdade é que a tal missão , em muitas vezes, é provação ao espírito que se apresenta como Caboclo, Preto Velho, Exu ou outra roupagem possível.
Conseguirá o espírito transmitir a mensagem que ultrapassa a barreira da fumaça, do trejeito caracterizador, da postura, do desenho pontuador?
Esta mesma que precisará vir do mais profundo do "seu" ser, como constatação de real transformação?
Não falamos aqui de expiação ou punição (ainda que muitas vezes se faça por estas vias), mas de tomada de consciência de que o espírito é luz e precisa nela e por ela transcender suas trevas interiores.
Conseguirá o espírito manter a vibração original do propósito que o levou até aquele terreiro, a despeito da passível inconstância do médium, da possível alteração da corrente mediúnica por vezes invigilante, dos assistentes inconsequentes do valor de seus pensamentos e até mesmo dos avulsos desencarnados?
Pois que a despeito de tantos fatores, sua firmeza se fia na fé inabalável de que o Alto o sustenta e mantém, e sem isso, sua missão é vazia e inútil.
Por saber disso, tudo o que fizer não será por si e para si, mas num paradoxo que só os que compreendem que “só é livre quem aprende a obedecer”, tudo o que puder fazer será pelos desígnios e providência Divinas. Não é dele, nem para ele que o sentimento de gratidão deverá ser dirigido, já que foi tão somente um instrumento, e eis aqui a provação a que este espírito se subjugou, desapegar-se.
Despojar-se de encontrar reconhecimento por algo que sabe não ser seu, e mesmo assim, descobrir-se integrante e integrado ao Poder Gerador que o enleva e leva para a incrível jornada de quanto mais não ser mais o Ser saberá.
Quando um Guia de Umbanda vem, ele nada traz, de si, mas somente Daquele que o envia e nele deposita sua Força e Poder.
Isto o torna humilde e consciente da responsabilidade de ser portador de um Bem que precisará, ao retornar ao mundo espiritual, devolver ao legítimo Senhor(a), Fonte e Matriz de tudo o que o espírito pôde criar.
O que traz um Guia de Umbanda quando vêem ao terreiro? Nada, de si mesmo, tão somente tudo o que o Todo faz viver em seu coração.
Felizes o que sabem que nada pedem de si a quem nada de si pode dar, mas que pedem aos que trazem o Todo para o encontro do Todo em cada um.
Hoje é dia de Gira de Preto Velho!
“Eu andava perambulando
sem ter nada prá comer,
Fui pedir às almas santas
para vir me socorrer (bis)
Foram as almas que me "ajudou" (bis)
Meu divino espírito santo
Louvo a Deus Nosso Senhor (bis)
Quem pede às Almas, a Almas dá
Filho de pemba, é que não sabe aproveitar”
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