Hoje pela manhã tomei ao acaso o Livro dos Médiuns e ao ler o texto que encontrei me veio de imediato na mente, se eu trocar as palavras Espiritismo, espírita, por Umbanda, umbandista, me parece por demais pertinente estes trechos para refletir sobre a tão buscada união.
Deixo para apreciação...
A Umbanda, que apenas acaba de nascer, é apreciada de maneiras diversas e muito pouco compreendida na sua essência por grande número de adeptos, para oferecer condições suficientes de união geral entre os seus membros para se formar uma associação. Não poderão existir estas condições a não ser entre os que compreendam os seus objetivo moral e procuram integrar-se nele. Entre os que só o vêem através dos fatos mais ou menos curiosos nenhum elemento sério de ligação poderia existir. Colocando os fatos acima dos princípios, uma simples divergência na maneira de considerá-los provocaria a divisão. Já não se daria o mesmo no tocante aos primeiros, porque sobre a questão moral não podem existir duas maneiras de ver. Também é fato que, por onde quer que se encontrem uma confiança mútua sempre os liga. A benevolência recíproca, reinando entre eles, afasta todo constrangimento e retraimento originados da suscetibilidade, do orgulho que se irrita com a menor contradição, do egoísmo que só se interessa por si.
Uma sociedade em que esses sentimentos dominassem, onde os seus membros se reunissem com o fim de se instruírem e não com a esperança de ver apenas novidades, ou para fazer prevalecer a sua opinião, seria não somente, mas também indissolúvel. A dificuldade de reunir ainda numerosos elementos dessa maneia homogênea leva-nos a dizer, que no interesse dos estudos e para o bem da própria causa, as reuniões umbandistas devem multiplicar-se mais pela constituição de pequenos grupos do que de grandes associações.
Esses grupos, correspondendo-se entre si, visitando-se, permutando suas observações podem desde logo formar um núcleo da grande família umbandista que um dia reunirá todas as opiniões, unindo os homens no mesmo sentimento e fraternidade caracterizados pela caridade cristã.
Já vimos como é importante à uniformidade de sentimentos para obtenção de bons resultados. Essa uniformidade é naturalmente mais difícil de se obter quando o número de pessoas é maior. Nas pequenas reuniões, onde todos se conhecem melhor, tem-se mais segurança na introdução de elementos novos. O silêncio e a concentração tornam-se mais fáceis e tudo se passa como em família. As grandes assembléias não permitem a intimidade pela variedade de elementos de que se compõem. Exigem locais especiais, recursos pecuniários e um aparelhamento administrativo que os pequenos grupos dispensam. A divergência de caracteres, de idéias, de opiniões se revelam melhor, oferecendo aos Espíritos perturbadores mais facilidade para semear a discórdia. Quanto mais numerosa a reunião, mais difícil de se contentar a todos. Cada um queria que os trabalhos fossem dirigidos a seu gosto, que fossem tratados de preferência os assuntos que mais lhe interessam, e alguns julgariam que o título de sócio lhes daria o direito de impor os seus pontos de vista. Daí surgiriam protestos, causas de mal estar que levam cedo ou tarde à desunião e depois à dissolução, sorte de todas as sociedades de qualquer finalidade.
Os pequenos grupos não estão sujeitos a essas dificuldades. A queda de uma grande sociedade pareceria um insucesso para a causa umbandista e seus inimigos não deixariam de explorá-la. A dissolução de um pequeno grupo passa despercebida, e se um se dispersa, vinte outros se formam a seguir. Ora, vinte grupos de quinze a vinte pessoas obterão mais e farão mais para a divulgação do que uma assembléia de trezentas e quatrocentas pessoas.
Dir-se-á por certo que os membros de uma sociedade, agindo como dissemos, não seriam verdadeiros umbandistas, desde que o primeiro dever que a Umbanda impõe é o da caridade e da benevolência. Isso é perfeitamente justo. E por isso os que assim pensam são umbandistas mais de nome que de fato. Mas quem diria que podem mesmo ser chamados de umbandistas? Aqui se apresenta uma consideração de certa gravidade.
Não nos esqueçamos de que a Umbanda tem inimigos interessados em impedir-lhe o desenvolvimento e que vêem com despeito os seus sucessos. Os mais perigosos não são os que o atacam abertamente, mas os que agem na sombra, os que o acariciam com uma das mãos e o apunhalam com a outra. Esses seres malfazejos se infiltram por toda à parte onde possam fazer mal. Sabendo que a união é uma força trata de destruí-la, semeando a discórdia. Quem poderá então dizer que os que provoquem perturbações nas reuniões não sejam agentes provocadores, interessados na desordem? Seguramente não são verdadeiros nem bons umbandistas, pois não podem fazer o bem e sim muito mal. Compreende-se que tenham muito mais facilidade de se infiltrar nas reuniões numerosas do que nos pequenos grupos em todos se conhecem. Graças a manobras escusas, que passam despercebidas, semeiam a dúvida, a desconfiança e a inimizade. Sob a aparência de interesse pela causa criticam tudo, formam grupinhos que logo rompem a harmonia do conjunto. É o que eles querem.
Tratando com essas pessoas é inútil apelar aos sentimentos de caridade e fraternidade, seria como falar a surdos voluntários, porque o seu objetivo é precisamente o de destruir esses sentimentos que são o maior obstáculo às suas manobras. Essa situação, prejudicial a todas as sociedades, o é ainda mais às sociedades umbandistas, pois se não levar a uma ruptura provocará preocupações incompatíveis com o recolhimento exigido pelos trabalhos. As sociedades, pequenas ou grandes e todas as reuniões, seja qual for a sua importância, têm ainda de lutar contra outra dificuldade. Os fatores de perturbação não se encontram somente entre os seus membros, mas também no mundo invisível.
Assim como há Espíritos protetores para as instituições, as cidades e os povos, os Espíritos malfeitores também se ligam aos grupos e aos indivíduos. Ligam-se primeiro aos mais fracos aos mais acessíveis, procurando transformá-los em seus instrumentos, e pouco a pouco, vão envolvendo a todos, porque sua alegria maligna é tanto maior quanto maior o número dos que tenham subjugado. Todas às vezes, pois, que num grupo uma pessoa tenha caído na armadilha é necessário dizer que se tem um inimigo no campo, um lobo no redil a que se deve ter cautela porque o mais provável é que aumente as suas tentativas. Se não se desencorajar esse elemento por uma resistência enérgica. A obsessão se torna um mal contagioso que se manifestará entre os médiuns pela perturbação da mediunidade e entre os demais pela hostilidade recíproca,a perversão do senso moral e a destruição da harmonia.
Como o mais poderoso antídoto desse veneno é a caridade, é ela que eles procuram abafar. Não se deve pois esperar que o mal se torne incurável para lhe aplicar o remédio.
Nem mesmo se devem esperar os primeiros sintomas, pois é necessário sobretudo preveni-lo. Para isso há dois meios eficazes, quando bem aplicados: a prece feita de coração e o estudo atento dos menores sintomas que revelem a presença de Espíritos mistificadores. A primeira atrai os Espíritos bons que só assistem zelosamente aos que sabem secundá-los pela confiança em Deus; o outro prova aos maus que se puseram em relação com pessoas esclarecidas e bastante sensatas para não se deixarem enganar. A influência do meio decorre da natureza dos Espíritos e da maneira por que agem sobre os seres vivos. Dessa influência cada qual pode deduzir por si mesmo as condições mais favoráveis para uma sociedade que aspire a atrair a simpatia dos Espíritos bons, obtendo boas comunicações a afastando as más. Essas condições dependem inteiramente das disposições morais dos assistentes.
Podemos resumi-las nos seguintes pontos:
Perfeita comunhão de idéias e sentimentos;
Benevolência recíproca entre todos os membros;
Renúncia de todo sentimento contrário à verdadeira caridade cristã;
Desejo uníssono de se instruir e de melhorar pelo ensinamento dos Espíritos bons e aproveitamento de seus conselhos.
Quem estiver convencido de que os Espíritos superiores se manifestam com o fim de nos fazer progredir e não para nos agradar, compreenderá que eles devem se afastar dos que se limitam a admirar o seu estilo sem tirar nenhum fruto das suas palavras e só são atraídos às sessões pelo maior ou menor interesse que elas oferecem, de acordo com seus gostos particulares;
Exclusão de tudo o que nas comunicações solicitadas aos Espíritos só tenha por objetivo a curiosidade;
Concentração e silêncio respeitoso durante as conversações com os Espíritos;
Associação de todos os assistentes pelo pensamento no apelo aos Espíritos evocados;
Concurso de todos os médiuns, com renúncia de qualquer sentimento de orgulho, de amor próprio e de supremacia, com o desejo único de se tornarem úteis.
Essas condições serão tão difíceis de preencher que não se encontrem quem possa satisfazê-las?
Não pensamos assim. Esperamos, pelo contrário, que as reuniões verdadeiramente sérias, como as já existentes em diferentes lugares, se multiplicarão e não hesitamos em dizer que a elas a Umbanda deverá a sua mais ampla divulgação.
Quando a zombaria ataca o bem deixa de provocar o riso e torna-se desprezível.
Entre as reuniões dessa espécie é que se estabelece laço de real simpatia, uma solidariedade mútua, pela própria força das circunstâncias, contribuindo para o progresso geral.
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Conforme dito no início, utilizei-me de trechos do Livro dos Médiuns - Cap. 29 - Reuniões e Sociedades Espíritas - item 334 em diante.
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