segunda-feira, 20 de abril de 2009

Ora - direis: ouvir estrelas, Certo! Perdeste o senso..

"Ora - direis: ouvir estrelas,
Certo! Perdeste o senso
E eu vos direi no entanto
Enquanto houver espaço, corpo
Tempo e algum modo de dizer não, eu canto
Enquanto houver espaço , corpo
Tempo e algum modo de dizer não, eu canto
Enquanto houver espaço ,corpo
Tempo e algum modo de dizer não, eu canto”

Música Divina Comédia Humana, Belchior, sobre trecho do poema de Olavo Bilac

Como leitor do blog Ouvindo as Vozes de Aruanda, entre outros, encontrei algumas surpresas na citação referente ao texto onde escrevo algumas bobagens, a maior de todas foi saber que pessoas próximas ao autor, Ricardo Machado, ainda que bem intencionadas, o exortaram a descansar a pena sobre o que lemos, vemos e somos informados nesta Umbanda de todos nós (e que cada vez mais parece estar fadada a ser Umbanda onde o "nós" significa: alguns seletos escolhidos das esferas muito, muito distante ditam como todos os outros, seja lá a alcunha que recebam: iniciados, discípulos, colaboradores, filhos, magos, seguidores deve fazer, ou seja uma espécie de imprimatur (o que confirmaria que somos mesmo boas ovelhas egressas do catolicismo?).

Ou será algum deles a reencarnação de Moisés diante de um povo (ou quem sabe o mesmo de outros tempos?) endurecido e desgastado, precisando de leis escritas em tábuas modernas e estátuas de gesso, resina, ouro, que reclama do vale-tudo, das patifarias, mas se deixa levar pelo oba-oba sem questionar?

Por que me surpreendi? Justamente por constatar, que cada vez menos existam vozes dissonantes no belo e bem adestrado coro a entoar o hino "Agora a Umbanda Vai!".

E como me disseram alguns amigos tbm, prq ficarmos a nos desgastar tanto com o quê pensam os outros?

Quando escrevi o texto falando do sentimento de desânimo, procurei ainda que sem a qualidade e clareza tais como a de Ricardo Machado, Cláudio Zeus, Caio de Omulú, etc., expressar o quão triste enxergava o modo como em nosso "quintal" a mesmice se mantinha. E como disse no texto anterior neste blog, onde exaltei a qualidade dos Amigos , ando mesmo ciclotímico.

Verificamos a postura de grande parte dos umbandistas no clamor de um salvador, alguém que ainda que não descesse do céu, deste receba o raio luminoso e mostre as "verdades que estão escondidas" prá todos verem. Cada povo ou comunidade têm os salvadores, profetas, mestres, iluminados que merecem, será isso? Ou será que aguardam o dilúvio umbandista para que haja a "limpa" dos bons e puros?

Talvez eis aqui o imbróglio, para que suar quando se é muito melhor um pastor apontando sua lanterna na direção que devemos olhar( que aqui no interior nóis chamemo de tapa-zóio)...

Basta juntar pediculosidade amorfa estrogênica com respeito, visibilidade, dignidade, direitos, ocupar nosso lugar ao sol, chegou a hora desta gente bronzeada mostrar seu valor nos discursos, que rapidamente ouve-se oh! ah! nossa! Nunca disseram ou fizeram antes!

Logicamente acompanhado de pedidos de apoio, confiança irrestrita para este ou aquele projeto, candidato e digno representante (mas não perguntemos sobre seu passado ou quem o apóia. A maior pérola que ouvi foi numa certa reunião anterior as eleições passadas, onde fora apresentado o “nosso candidato”: devemos olhar a pessoa e não o partido...). Reunião na qual aproveitei e relembrei a pérola atribuída ao maior filósofo da política brasileira, Toninho Malvadeza: "Política é a arte de namorar homem, sem beijar!"

Participo de listas de debate, em especial comunidades no Orkut, praticamente desde o seu início e constato ainda hoje que certos assuntos não morrem, em especial àqueles onde mais do que nunca é preferível diminuir a importância de um para que não haja abalo na sua própria identidade, comprovando assim que de fato a reencarnação existe e viemos mesmo expurgar neste mundo, real e virtual.

As posturas idem. Experimente-se propor análises mais profundas sobre um texto, averiguar as fontes de uma afirmação, confrontar dados entre o que diz autor x e autor y ou simplesmente questionar "verdades" inalcançáveis e rapidamente receberemos a saravaida de resmungos, recalques, risadas histéricas, respostas dissimuladas disfarçadas de texto equilibrado e todo tipo de acusações. Certo, nada que qualquer um que se proponha a refletir sobre o que esta sendo dito já não conheça.

Simplesmente não se muda a música e até mesmo já se cristalizam como verdades irrefutáveis e aqui reconheço que estou repetindo o que o João Carlos já disse com maestria;

Zélio de Moraes é o fundador da Umbanda...... em português...( a eterna luta entre M´banda x Umbanda x Aumbandhã);

Se a Umbanda é brasileira prq utiliza nomes de Orixás africanos?;

Então existia Umbanda antes de 1908? Ah sim! E como era chamado? Macumba, Magia Negra, Cabula, Candomblé de Caboclo, Coisa de Preto. Até que veio o branco Sr. Zélio, com seu espírito branco, Frei Malagrida, com remorso e por isso se declarou Caboclo brasileiro e inventou um Culto mais aceitável...;

Zélio de Moraes embranqueceu a Umbanda por que ela já existia na África e tudo o que diz respeito aos negros precisava ser "limpo" e "civilizado" para ser aceito...;

Não há registro oficial da manifestação do Sr. Caboclo das Sete Encruzilhadas....logo é inverídico o relato do Sr. Zélio e dos espíritas revoltados com a elitização do Espiritismo que resolveram criar a Umbanda... (Salve Santa Diana Brown e Santo Renato Ortiz, protetores dos guardiões das raízes africanas da Umbanda e das lutas de classes sociais e espirituais);

A não utilização do sacrifício ritual é prova do preconceito para com o negro na Umbanda.... assim como da falta de axé nos seus fundamentos....;

A Umbanda é uma religião baseada em ensinamentos africanos... e é por isso Jesus não caiba nela, já que o Deus Cristão;

Se vc diz que fala em Jesus em sua Casa , pronto já te carimbam como Umbancatólico;

Se diz que estuda chacras, meditação, visualização como instrumentos de apoio no desenvolvimento mediúnico te acusam de querer inventar a roda;

Se diz que estuda ou debate livros de Umbanda logo dizem que Umbanda não se aprende nos livros;

Entre tantas outras...

Confesso que após ter escrito o texto, fiz um autocrítica, pois percebi que no fundo escondida estava a intenção de que mais e mais umbandistas pensantes ( e aqui é que me peguei na curva, pois de certo modo me coloquei como “modelo” e isto é arrogância, descambando pra vaidade disfarçada de boa intenção) se manifestassem, pois assim os mestres, os iluminados, os guerreiros (engraçado como tem gente que bate no peito se vangloriando de ser um destes e que por isso precisam galgar postos mais altos prá continuarem suas lutas não é?), teriam que rebolar pra explicarem de onde e como e pra quê desceu tal orientação.

Disto é que me cansei, da pasmaceira dos adeptos de uma Escola da Vida que ensina a sermos livres, andar pelas próprias pernas, seguirmos nossa consciência, se comportando como marionetes inconseqüentes (será este o preço a ser pago pela tão aclamada união? Deixar de exerçer o questionamento já que se há eleitos pelo astral, quem somos nós para levantar dúvidas?);

Da falta de amizade sincera entre pessoas que se chamam Irmãos de Fé. Cansei dos olhares de rabo-de-zóio para qualquer mínimo gesto, pois pode ser macumba...

De quem te olha na cara te chamando de Irmão e bota seu nome, dos seus amigos, dos filhos da Casa onde trabalhamos na troqueira prá te fazer calar a boca.

Das carteiradas; Sabe com vc está falando? Sou representante tal, professor tal, mestre tal.

Cansei da brincadeira entre nós, onde nos chamamos de macumbeiros, mas ai de quem, os de fora nos assim evocar. Vale só preconceito de dentro?;

Dos afagos de hoje na pessoa que até outro dia trabalhava contra os projetos que tanto custaram suor e tempo e esperanças;

Do interesse mesquinho na defesa dos direitos, visando algum retorno pessoal e financeiro.

E como costumo dizer, canso sempre que posso da minha própria mediocridade e burrice.

Mas quem é que me deu otorização pra servir de Grilo Falante pra tudo isso não é mesmo?

"Aparelhos-Chefes! Presidentes de Tendas! Por que ficarmos indiferentes diante deste "estado de coisas?"

Por que silenciarmos, se esta atitude pode dar margem a que qualifiquem todos os umbandistas como de uma só "panelinha"?

Por que estarmos passando ,em nós mesmos, um suposto atestado de incapacidade, quando deixamos de defender os legítimos Princípios da Lei de Umbanda, pela separação do "joio do trigo", dentro de um mal interpretado espírito de tolerância?

Sim, somos e devemos ser TOLERANTES com TODAS as formas de expressão religiosa: - RESPEITAMOS as concepções de cada um em seus respectivos planos, mas , daí a colocarmos dentro DELES, levados por uma tolerância prejudicial, o bom nome da Umbanda que praticamos, é simplesmente tornarmos real este "atestado de incapacidade", se não houver coragem e idealismo para separarmos "os alhos dos bugalhos "...."

Do livro Umbanda de Todos Nós, Matta e Silva, 1956

Tempo Rei

Gilberto Gil

Não me iludo
Tudo permanecerá
Do jeito que tem sido
Transcorrendo
Transformando
Tempo e espaço navegando
Todos os sentidos...

Pães de Açúcar
Corcovados
Fustigados pela chuva
E pelo eterno vento...

Água mole
Pedra dura
Tanto bate
Que não restará
Nem pensamento...

Tempo Rei!
Oh Tempo Rei!
Oh Tempo Rei!
Transformai
As velhas formas do viver
Ensinai-me
Oh Pai!
O que eu, ainda não sei
Mãe Senhora do Perpétuo
Socorrei!...

Pensamento!
Mesmo o fundamento
Singular do ser humano
De um momento, para o outro
Poderá não mais fundar
Nem gregos, nem baianos...

Mães zelosas
Pais corujas
Vejam como as águas
De repente ficam sujas...

Não se iludam
Não me iludo
Tudo agora mesmo
Pode estar por um segundo...

Tempo Rei!
Oh Tempo Rei!
Oh Tempo Rei!
Transformai
As velhas formas do viver
Ensinai-me
Oh Pai!
O que eu, ainda não sei
Mãe Senhora do Perpétuo
Socorrei!...(2x)

Um comentário:

João Carlos disse...

Na minha qualidade de "mestre-em-ciências-ocultas-e-letras-apagadas" — ou, como dizia meu pai (que seria centenário neste último 13 de abril), "Doutor em Mula-Ruça" — me parece claro que a Umbanda prima pela não-pureza (pelo menos é o que eu traduzo da entrevista da neta de Zélio). Não se pauta pelas tradições e procedimentos consagrados nos "Candomblés de Nação", não se limita a interpretações erradas dos escritos de Kardec, não aceita o "Roma locuta, causa finita" da Igreja Católica, não tem a Bíblia como "Livro Sagrado Incontestável" como a maioria dos cristãos, e, se não adiciona coisas do Corão, é porque os maometanos são muito poucos neste Brasil.

Quem quiser que trace sua origem às terras míticas de Mu, Atlântida, ou o que for (serve até a "Numenor" de Tolkien...) A verdadeira origem não se encontra neste plano de existência! Mas, se os espíritos nos falassem de dimensões que "não existem" (pelo menos não são mensuráveis dentro de nosso espaço-tempo), todos iriam confundir as coisas (afinal, quem é que realmente entende o que os Buddhistas querem dizer com "tudo é impermanente e ilusão"?...)

O construtor de estradas da antiguidade deveria se revoltar com a noção de que a Terra é redonda... Ele sabia, por experiência própria, que a Terra era plana... e uma distância calculada para Atenas, era a mesma em Tebas...Quem foi mesmo que disse que "pecado é querer conquistar o céu de assalto"?... (Machen?...) Eu refrasearia: "pecado é querer saber melhor do que Deus como ele realiza suas maravilhas"...