Já há algum tempo “rumino” na horta mental sobre algo que ouço e leio há mais tempo ainda, o orgulho de ser umbandista.
Quero crer que tal incentivo se deva ao fato de haver campanhas declaradas ou não de outras denominações doutrinárias/religiosas (ou não) detratando os umbandistas. Assim como o fato do próprio umbandista se expor auto-classificando outra coisa: católico, espírita, espiritualista, zen católico espírita, ascencionado ou ascensorista do astral, etc. Talvez um sintoma de esquizofrenia espiritual...
Desde o primeiro contato com tal moção à comunidade umbandista, me senti incomodado com o termo orgulho e mais ainda com os possíveis objetivos para o qual esta se apresentou necessária.
Após (e não ainda completa reflexão sobre o tema) nas idas e vindas desta maravilhosa jornada que chamamos Vida, me deparei com alguns textos que só “pioraram”, minha situação, pois elevaram a meditação.
Vamos então ao exercício de fazer a pemba trabalhar.
Li um artigo de Caroline S. Treigher (maravilhoso, honesto, autêntico, profundo) com o seguinte conteúdo:
www.papopsi.com/2009/06/orgulho
“O que é o orgulho? Diz o dicionário Aurélio, entre outras sinonímias: 1. Sentimento de dignidade pessoal; 2. Conceito exagerado ou elevado de si próprio. De fato, é o que usualmente denominamos orgulho, e que acreditamos, de modo geral, ser um defeito. Pelo menos quando se diz que uma pessoa é orgulhosa, não se trata de um elogio, mas uma crítica.
Entretanto, o que torna alguém orgulhoso? Será realmente a dignidade pessoal, o conceito elevado de si próprio? Acho que não. Muito pelo contrário, penso que uma pessoa orgulhosa sofre de baixa auto-estima. Pode parecer contraditório, mas se nos aprofundarmos na personalidade que normalmente se denomina orgulhosa, encontraremos, sim, um baixo conceito de si.
Ora, o orgulhoso proclama-se melhor que os demais. Para isso alega muitos fatores, que vão desde a aparência pessoal, a raça ou berço, ao brilho do intelecto. Olha os outros por cima, com um ar de superioridade implícito, como se fosse detentor de uma qualidade única, pertencente a alguns poucos privilegiados da humanidade, entre os quais, claro, está ele.
Mas tudo isso se deve a uma profunda insegurança. Ele se agarra a aspectos externos ou atributos visíveis, para alegar uma grandeza da qual intimamente duvida. Quer convencer o mundo de que é bom, superior, melhor. Talvez porque se o mundo se convencer disso, ele próprio se convença.”
Destaco este trecho:
“Ele se agarra a aspectos externos ou atributos visíveis, para alegar uma grandeza da qual intimamente duvida. Quer convencer o mundo de que é bom, superior, melhor. Talvez porque se o mundo se convencer disso, ele próprio se convença.”
É aqui que começo a questionar sobre o aclamado orgulho umbandista!
Vemos tal apelo em muitos textos, debates e discursos (eu mesmo já os fiz, “irmãos temos que mostrar quem somos!”, participei inclusive da criação da camiseta: Umbanda Eu visto esta Camisa! Quando militava na Umbanda Fest), e desde esta época dizia e tinha perfeita noção de que ao usá-la me tornava alvo, nem por isso deixei de fazê-lo ainda hoje. E prq? Retornemos ao texto de Caroline;
“Quem se sente bem consigo próprio e está seguro de suas atribuições, não precisa impor nada a ninguém. Sua consciência é o que lhe basta.”
Podemos perguntar, se assim é para quê então usar a camiseta ou uma guia exposta no pescoço ou outro adereço qualquer? Não seria por si só uma imposição, enquanto ao mesmo tempo uma demarcação, uma provocação ou ainda auto-rotulagem?
A resposta está na seguinte condição; Usar algo que nos destaque conterá sim os fatores supracitados, porém se o valor das nossas convicções tiver maior relevância que os adereços, nos destacaremos certamente muito mais pela dignidade expressada em nossos atos do que pelo reconhecimento ou o marketing sobre os mesmos.
Recordo-me de um episódio ocorrido em torno de 5 meses, estava na unidade do Poupa Tempo em Bauru, quando avistei um rapaz usando a camiseta que citei, sentindo alegria e algum orgulho, fui até ele;
“Olá! Estou vendo a camiseta, a qual Casa o irmão pertence?”
R – “Como???????”
“Vc está usando a camiseta que nasceu aqui em Bauru, vc é umbandista?”
R – “Aaaaaaahhhh tá! Esta camiseta eu ganhei num albergue lá em Campinas! Nem sei o que é isto, Umbanda.”
Tente imaginar a minha expressão de “cara de cor de cerca de burro quando foge” ao ouvir isto... É claro que procurei da maneira mais simples e sem proselitismo explicar o que é o tal isto, Umbanda.
Tempos depois me lembrei jocosamente que poderia ter agarrado o rapaz pela camiseta e vociferado: “Tú não merece usar esta camiseta, tu é moleque, tu é moleque!” tal e qual um Capitão Nascimento do terreiro, rsrsrsrsrsrsrsrs
Neste ponto recomendo a leitura do texto do Sr. Gregório Brandão, Dirigente do CUCA;
http://soufelizporserumbandista.blo
Continuando...
Quem está convicto de sua fé ou de seus ideais (convicção: estar convencido por fatos ou raciocínio), aplica em si mesmo, torna-se o reflexo vivo daquilo que lhe dá sentido e razão de viver.
“Não seria esta a postura de quem realmente possui uma elevada auto-estima?” repito em coro com Caroline.
Não digo que não seja preciso acionar os recursos necessários quando ocorrem abusos intoleráveis, agressões, etc. Mas tampouco é cabível que as leis que visam à liberdade religiosa sejam buscadas tão somente como aporte de direitos e benesses de uns que se posicionam como eternos “perseguidos” e o capítulo sobre deveres seja esquecido ou relegado aos “perseguidores”.
Quem será mais digno de pena, quem se coloca como perseguidor ou quem se aceita como perseguido?
Por isso ao invés de orgulho, tenhamos convicção!
Mas para isso é necessário, como diz o texto do Sr. Gregório Brandão: “O UMBANDISTA VERDADEIRO realmente acredita naquilo que professa” / “É aquele médium interessado, que sempre busca aprender mais, questionar mais, buscando compreender melhor como funciona sua religião e a espiritualidade.”
Ao invés de orgulho, tenhamos convicção do prq estamos na Umbanda.
O que não dá mais é; umbandista que tem medo de espíritos ou da própria sombra;
Que discursa, no real ou virtual “Umbanda é Paz, Amor, Caridade, Fraternidade, União,Humildade”, mas se houver contrariedade ou divergência, acusa, difama, desdenha, apunhala, ofende, “demanda”. Não prq o antes “irmão” agora convertido “adversário” ou “pedra no sapato” possa ter agido assim e “justificado” a reação, mas tão somente prq este ousou com argumentos e inteligência demonstrar que o castelo que parecia sólido se esfumaçou;
Acredita que É o cargo que ocupa e por isso TEM QUE receber todas as honras e saudações, aplausos e submissão ao seu paramento e não que ESTÁ neste como condição temporária e probatória necessária ao seu crescimento espiritual;
Incensa o Sr. Zélio de Moraes e o Sr. Caboclo das Sete Encruzilhadas prq fica bem ou é de bom tom (100 anos, festa, batuque, flashes, microfone, palavras de ordem, que beleza!!!!) mas não procura conhecer, compreender e seguir seus ensinamentos. Basta saber o “registro histórico” que tá muito bom, afinal de contas estão ultrapassados (assim como os outros antigos...) e agora temos evoluções teológicas;
Não incensa o Sr. Zélio e o Sr. Caboclo e isso lhe arroga o direito de inverter, manipular, menosprezar, aviltar seu legado e assim validar “minha Umbandinha”, “a Umbandinha que pratico”, “a minha verdade” (não é menosprezo meu, é assim que muitos escrevem numa pretensa aura de humildade e simplicidade);
Não assumir na denominação a vertente umbandista que pratica (Angola, Cristã, Esotérica, Branca, Omolocô,etc.) por desconhecimento de sua raiz ou prq é mais garantido se resguardar no velho chavão “Umbanda é uma coisa só!”, assim como encaixar outro lema “toalha da diversidade”;
Se recusar a conhecer e estudar a Doutrina Espírita / Evangelho como cabedais iluminados de aprimoramento interior (ah! mas são doutrinas “brancas”), mas que precisa fazer de tudo para se achegar aos Cultos de Nação e desta forma se sentir “africanizado”, “de volta às raízes”. Mas o máximo que muitos vão conseguir é se “achegar” mesmo, pois qdo começam a querer estudar de verdade sobre, percebem que a conversa é outra, bem mais séria e profunda e aí não dá mais para sustentar que Orixá na Umbanda e no Candomblé são “tratados da mesma forma”, “feitos aqui de um jeito mais leve e lá com mais fundamento”, entre outras coisas (salvo se permanecer em permanente estado esquizofrênico espiritual...).
A série de textos do Cláudio Zeus, Umbanda e a Torre de Babel esmiúça com notável propriedade o tema.
http://umbandasemmedo.blogspot.com/
Ao invés de orgulho adereço de camelô, tenhamos a convicção prisma, pela qual cada um seja instrumento de reflexão da Luz onde quer que esteja. Mesmo prq é assim de todo modo: “A boca fala do que o coração está cheio!” “Onde estiver seu coração, aí estará o seu tesouro!”, “Vós sóis o sal e a luz do mundo, se o sal perder o sabor e a luz estiver escondida, prá que servirão?”
“A dignidade pessoal não vem de fora ou da aprovação dos outros, mas de dentro, do conhecimento e aceitação de si mesmo, com defeitos e virtudes. Vem de uma segurança do próprio valor que não faz desejar ser o que não se é. E de um auto-amor que faz querer ser melhor, não para ofuscar os outros ou porque não se sinta merecedor de respeito e consideração, mas para realizar plenamente o potencial humano.
Já dizia Shakespeare: “Que obra de arte é o homem!” e, antes dele, Jesus: “Vós sois deuses!” Tudo o que precisamos é tomar posse de nossa natureza divina.
Somente o reconhecimento desta natureza confere calma, resistência pacífica, humildade. Não orgulho. O orgulho é uma mentira, e jamais constituirá a base da verdadeira dignidade. ”
Orgulho por ser umbandista? Eu não tenho! Eu tenho é convicção. E sigo minha caminhada com olhos e o coração cheios de esperança e alegria por poder estar "estagiando" nesta Escola da Vida Maior, onde Jesus é o Mestre Maior, os Orixás-Espíritos são manifestações de Deus que se derrama em tantas quantas fontes de Amor lhe é possível, justamente prá nos dizer o quanto nos Ama.
Afinal, é esta mesma Umbanda, a Mestra que me ensina a não se enquadrar em definições passageiras, mas sim a buscar a sua essência, eterna e imutável.
Não me cansarei jamais de repetir as palavras de minha Mãe Espiritual de Terreiro, Mãe Benedita que com sua paciência, dignidade e amor formaram o filho de fé que hoje sou, ainda que as tenha “esquecido” algumas vezes e batido cabeça em ilusões:
“Num crio meus fio prá ficá de agarrado na barra de minha saia, quero eles tudo di pé pelas própias pernas de cabeça erguida!”
Aqui to eu minha Mãe, batendo cabeça prá Senhora e prá Jesus!
"Bate cabeça, filho de Umbanda!
Pede força ao nosso Pai Oxalá,
Bença Mamãe, Bença Papai
Filho de Umbanda tem Côroa de Oxalá
Com a mão direita se toma a benção,
Com a mão na pemba vem saudar seus Orixás!"
Paz e Luz!
Nenhum comentário:
Postar um comentário