sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Ô pirdissaum qui é de rumina num sabe?

“Eu não tinha pais. Eu adotei o céu e a terra como meus pais!
Eu não tinha casa. Eu adotei estar consciente como minha casa.
Pra mim não existia vida e morte. Eu adotei a respiração e a aspiração como vida e morte.
Eu não possuía meios. Eu adotei a compreensão como meu meio.
Eu não possuía habilidades especiais. Eu adotei a moral como minha habilidade especial.
Eu não possuía olhos. Eu adotei ser rápido como a luz, como meus olhos.
Eu não possuía ouvidos. Eu adotei a sensibilidade como meu ouvido.
Eu não possuía membros. Eu adotei a agilidade como meus membros.
Eu não possuía estratégias. Eu adotei não desvanecer de pensamento como minha estratégia.
Eu não possuía projetos. Eu adotei prever oportunidades como meu projeto.
Eu não possuía princípios. Eu adotei me adaptar às situações como meu princípio.
Eu não tinha amigos. Eu adotei meu coração como meu amigo.
Eu não possuía talentos. Eu adotei o ser persistente como meu talento.
Eu não possuía inimigos. Eu adotei a imprudência como minha inimiga.
Pra mim não existia milagre. Eu adotei levar a vida corretamente como milagre.
Eu não possuía corpo. Eu adotei a paciência como meu corpo.
Eu não possuía armadura. Eu adotei a compaixão e a solidão como minha armadura.
Eu não era iluminado. Eu adotei a determinação como minha iluminação.
Eu não possuía espada. Eu adotei a ausência de ego como minha espada”.


Este poema foi escrito por um Samurai no século XV

Estive “ruminando” sobre alguns comentários relativos ao texto “Orgulho Umbandista? Escolho Convicção!” e que motivaram passeio por antigas comunidades umbandistas no Orkut, as que ainda existem e outras onde pude bisbilhotar.

Nunca gostei de Msn, listas. Aprendi a duras penas a conviver e valorizar poucos, poucos mesmos Amigos virtuais (mesmo que nunca tenha visto a fuça e trocado um abraço, gesto caro ao meu coração, não contam a Kátia Rister e família e o Paulo Mauad do RJ).

Como li certa vez, quem é amigo de todo mundo não é amigo de ninguém.

Revi sem saudades ou remorsos (salvo as gafes, idiotices, falácias, incoerências que cometi, as quais muitos se esborracharam de gargalhadas, o que espero tenham feito realmente, pois eu o fiz!), como empreguei tempo de vida e como muitos ainda o fazem.

Isso me fez ensimesmar, pois não sendo mais o Edenilson de anos atrás física-psíquica-ideológica-emocional-esp
iritual/MENTE, procurei perceber se ainda havia algo impresso naqueles com quem encontrei e deles em mim tbm. Vi o espectro cada vez mais distante, mas não ausente do EGO (sua sombra sempre a nos espreitar) e seus ardis: a hipocrisia, a mentira, o recurso fácil e covarde, a crítica pela crítica, a arrogância do intelecto, o orgulho infantil de saber usar um dicionário, a “vitória” pela humilhação, o grito agressor, a ameaça como imposição de respeito, a dissimulação embalada como elegância, a estupidez emoldurada como franqueza.

Quantas vezes citei O Retrato de Dorian Gray de Oscar Wilde...

Revi a insegurança e a mediocridade que conduzem ao desespero de encontrar “argumentos” (O Google é nosso pastor e nada nos faltará! = control c + control v) para “derrotar” ao outro e depois dançar sobre seu “cadáver”.

Por muito tempo instalei e mantive o inferno dentro de mim (pode-se dizer, prq não, que é isto que se tornaram muitas “comunidades” umbandistas) e claro as mesmas torturas prazerosas que me submetia, generoso “distribuía” aos demais.

Vi o fantasma do que eu era e o chamei pelo nome (é desta forma que os pacificamos), mas aquilo já não tinha mais nome, se tornou uma fumaça.

É certo quando dizem só acontecer mudanças em nós quando cansamos de fingir que a dor que sentimos é suportável, “gostosinha até”. Não, não é! E não há álcool, sexo, drogas, diversão nem mesmo rock roll que alivie apesar de “só” Jesus salvar que disfarce.

Sem contar o cheiro fétido que exala da poça emocional represada que vai infectando e pouco a pouco nos matando.

Quantas vezes disse que ao postarmos, revelamos o que escolhemos semear e cultivar dentro de nós...

Quantas vezes escrevi e não li, disse e não ouvi, exortei e não pratiquei...

Entre os comentários que me chamaram a atenção, este tomou valor especial;

“Em relação ao texto, claro que convicção é melhor que orgulho pelo fato dessa palavra - orgulho - dar margem a duplas e tríplas interpretações, tanto positivas quanto exclusivamente fanáticas. No entanto, convicção mesmo, pra existir DE FATO e não somente por insistência auditiva e oral repetitiva, envolve a necessidade de se conhecer um tanto quanto profundamente o tema sobre o qual se vai declarar convicto, ou seja, pra que se demonstrem verdadeiramente convictos umbandistas (e não somente se anunciem como) é preciso antes que conheçam a Umbanda em profundidade e não apenas superficialmente, de modo que convictos de fato, até hoje são muito poucos.” By Ana Triton

Quantos estão dispostos a dar tal mergulho no Oceano Umbanda?

Ir até o fundo, garimpar em busca dos seus tesouros e relíquias encobertos pela areia, pedras, congressos, manifestos, teses, códigos, livros ou escondidos entre o lixo irresponsável jogado por anos, imagine encontrar àquele mesmo espelhinho e hoje encarar-se no seu reflexo ou àquele vidro de perfume vagabundo que ao contrário do vinho, não melhora com o tempo e depois de retomado o fôlego, separar, limpar e avaliar cuidadosa e serenamente o que foi encontrado.

Realizar esta jornada buscando muito mais que a confirmação de possíveis/impossíveis fontes africanas, ameríndias, esotéricas ou cristãs. Ainda que tais sub-denominações sirvam para nortear a quem assim faça ou procure, o proceder daquela afluente umbandista.

Quantos estão de fato dispostos a abandonar o canto de sereia dos títulos, cargos, faixas, diplomas, honras ao mérito, privilégios, pompas e circunstâncias, tapetes estendidos e ainda sabendo que muitos irão desdenhar, ironizar, achincalhar, difamar, seguir caminhando em paz ouvindo sua consciência, rimando responsabilidade e amor?

Quantos terão a atitude imprescindível da humildade em reconhecer, após tão difícil e extenuante tarefa que o modo como concebia, exaltava, discursava, escrevia e praticava Umbanda precisa ser retificado. Que a base na qual se apoiava esta corroída, as paredes mal aprumadas, a argamassa de qualidade duvidosa?

Sendo todo umbandista um templo vivo, como se poderia assentar um altar/peji/congá interior para que nele a Luz e a Lei de Umbanda possam de fato e direito habitar em sua Unção com tal estado?

É inquestionável seja feita mais que uma reforma tipo “provisória, mas pra sempre”, um decreto aqui, um grito de ordem ali, um curso de tantas horas ou anos, um discurso bonito com a voz embargada, um texto bem escrevinhado, uma tradução de oração ou canção para o yorubá, tupi, latim ou sânscrito, uma indignação providencial.

É necessário “cingir os rins” de coragem para saltar! Porém ciente, não há rede, seguro, cordinha, sopro de dodói, só há entrega e confiança total.

Algo me diz que a Umbanda, como a compreendo Escola da Vida Maior, não dispõe de tolerância e condescendência infinitas com os que se acovardam diante da efetiva vivência de seus ensinamentos, tal como fazem quem fica à beira-mar tocando com as pontas dos dedos prá saber se a água está ou não confortável, adequada, ideal, doutrinariamente costuradinha, se compensa molhar os pés.

Estes nunca estarão dispostos a entrar de corpo inteiro, espírito e verdade na sua Luz.

Assim como o mar com suas incessantes ondas e marés, a Umbanda devolve tudo àquilo que os usurpadores lançam em suas águas.

Devolve prá onde?

Para o mesmo lugar onde recolheu, o coração de quem assim desejou, templo de nossa verdade, para que cada um ali mergulhe, garimpe, limpe, selecione e avalie o que ofertou.

Enfim, a Umbanda recolhe e devolve exatamente o que cada um semeou...

Que não nos falte coragem para encaráramos frente a frente tal imagem!

Obs: Ô pirdissaum qui é de rumina sô! tradução: A maldição do discernimento, by Amigo João Carlos, eita cabra bão dimais da conta!!!!!


Dedico em especial este texto para minha Amiga Rosana, sem sua ironia, lucidez loira e os indescritíveis haham haham eu não teria conseguido,rsrsrsrsrs


Paz e Luz!

6 comentários:

João Carlos disse...

Fala, Mano! Me dá a nítida impressão que eu ando em um estágio parecido com o seu: um cansaço tipo "esse filme eu já vi", uma sensação de Francisco fazendo pregação aos lobos, já que as pessoas não escutavam, um desdém profundo por "mistérios" que são mera insistência em compicar o que é simples, até uma certa arrogância em desprezar "erudições" de orelha de livro, decorrente da constatação de que, quanto mais aprendo, mais tenho um vago vislumbre da extensão de minha ignorância.

Nos meus estudos de cosmologia, enxergo um universo cujo tamanho foge a nossa compreensão e, no entanto, querem fazer do criador dessa imensidão um otário engabelável por promessas vãs e atitudes de fachada.

Somos cegos, surdos e burros, mas insistimos em distorcer as palavras dos espíritos-guias conforme nossos desejos mesquinhos.

E, desse cansaço todo, sobra, cada vez mais forte e serena, a determinação em seguir o caminho da luz – não porque qualquer entidade tenha afirmado que "esse é o caminho da salvação" (eu não consigo acreditar em "salvação individual"), apenas porque, mesmo com toda a dificuldade que essa vida desnecessariamente complicada nos impõe, constato que é o caminho mais fácil e agradável.

Por paradoxal que pareça, como é complicado ser simples!

Editor disse...

Gostei muito irmão. Saravá, e como diz: Paz e Luz!!!

Unknown disse...

É super tartaruga! mais uma vez suas mãos escrevem por mim também...
Mas uma vez mergulhado na Umbanda, seco nunca!hehehe

abraço!

Edenilson Francisco disse...

Oi João Carlos! Fala Amigo Querido ao meu Coração! Vc acerta em cheio o que motivou o parto deste texto (foi + de uma semana reescrevendo), porém é um cansaço tipo: só sei que não vou por aí! Cântico Negro, José Régio lembra?
Vou é por aqui:” E, desse cansaço todo, sobra, cada vez mais forte e serena, a determinação em seguir o caminho da luz” ou de dito de outro jeito:”Não preciso que me digam, de que lado bate o Sol, pois bate lá meu coração!” Belchior
Fiz questão de ler seu retorno com Dona Onça (além é claro de obrigá-la a ouvir TODAS as revisões que fiz, ué não casou por amor? Rsrsrsrsrs), sabe o que ganhei de recompensa? “Muito bem gafanhoto tá aprendendo!”

Penso que justamente é a atitude de pregação aos lobos que nos consumiu forças, afinal se assim são é prq acreditam que assim sejam, e não será a pregação que os demoverá, mas quem sabe, a atitude de Francisco, qual seja: Amar, louvar, trabalhar, seguir com os olhos voltados para o Alto que fala ao coração.
Quem estiver a fim (mas a fim mesmo!!!!!!!!!!!!!) faz o mesmo, caso contrário, como penso ter entendido do Mestre, “que os mortos enterrem os mortos”.
É este o sentimento que vem movendo meu coração.
Vc me fez lembrar um poema de Tagore:“Tú, Senhor de todos os céus, onde estaria o Teu Amor, se eu não existisse?
Tú me tornaste herdeiro de todo esse tesouro. No meu coração, está o jogo sem fim do teu prazer, e a Tua vontade sempre vai dando forma à minha vida”
Só sendo muito burro, surdo e cego não é mesmo?
Muita Paz e muita Luz prá vc e os seus!
Obs: É parece que o Vascão vai voltar...rsrsrsrsrsrs

Edenilson Francisco disse...

Olá Ricardo Barreira! Que bom que vc gostou do texto, faço votos que possa ser útil.

Paz e Luz!

Edenilson Francisco disse...

Oi Pedro! É sensacional sua colocação, ou mergulha ou não faz volume, seco? NUNCA!!!!

Mas tem algo pior, é qdo cospem...

Abraços Fraternos!


Paz e Luz!