quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Estou morrendo, isto é que importa!

Dia desses dizia a mulher que amo e é a estrela que alumeia meu caminho, o quanto nos últimos tempos me sentia feliz, o quanto o preço pago por decisões dificeis, dolorosas resultaram em brilho nos olhos, os mesmos olhos que agora enxergam as manhãs e o pôr-de-sol, as pessoas conhecidas ou não, a Espiritualidade e a Umbanda com nova face e sentido.

O quanto meu coração se alargou prá que houvesse mais Amar e menos Amado.

O quanto se revelou importante ferir este mesmo coração prá descobrir como é fulgaz a vida e que não estamos aqui para mendigar quireras das mãos de supostos semeadores.

O quanto se revelou primordial cuidar e velar da pequenina flor do campo que nasçe em meu jardim do que admirar o vistoso buquê na mesa posta e preparada para os flashes.

O quanto o peso e a paz da mão de um Caboclo, Preto Velho, Baiano e Exu me fizeram chorar, trabalhar, levantar e seguir sem medo de minha própria consciência.

Estou morrendo! E cada momento me é irrecuperável.

Estou morrendo! E por isso, cada beijo que não dou na mulher que amo é imperdoável!

Estou morrendo! E cada abraço que refugo aos que amo verdadeiramente me será pesado na balança do Tribunal Maior.

Estou morrendo! E por isso mesmo, não tenho mais tempo prá focar em máscaras e meias-verdades e jogos de poder.

Estou morrendo! E já não quero me ocupar com àqueles que na definição desta Senhora no vídeo abaixo circulam ao redor;

"AMAR E MUDAR AS COISAS ME INTERESSA MAIS"

http://www.youtube.com/watch?v=3fwmU3XUslY

Estou morrendo! Que falta me fará o fato de não me dizerem face a face o que não tiveram coragem e honestidade em dizer antes?

Estou morrend0! Quem haverá de me ferir com mais gratidão do que a mão da Irmã Morte?

Estou morrendo! Quem poderá me receber nos seus braços com maior doçura que a Irmã Vida?

Estou morrendo! E continuo vivo, pois que imortal somos!

Estou morrendo! Então, se de tuas maõs e boca, os gestos e palavras não vierem transparentes e sinceros, não queira me roubar o pouco tempo que me resta!


CÂNTICO NEGRO

JOSÉ RÉGIO

"Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!

Nenhum comentário: