terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

QUANDO A ESPIRITUALIDADE PREJUDICA...

- Por Frank -

Como qualquer experiência na vida, o despertar da espiritualidade pode ocorrer de forma natural, ou ser provocado por algum motivo que se fez necessário para que o mesmo ocorresse sem a busca do próprio indivíduo por isso. Em ambos os casos, deve-se tomar cuidado com o objetivo e com os rumos da nossa espiritualidade.

Estudar é mister, e discernimento é obrigatório.

Muitos tomam esse caminho pela vaidade do saber ou em busca de algum tesouro paranormal que os tornará detentores do manto da sabedoria, ou do elmo do despertar das faculdades sobrenaturais, repassando para o mundo espiritual, assim, um dos piores vícios do mundo: essa caçada desenfreada de algumas pessoas em busca de tornar-se superior aos demais.

Vemos isso, facilmente, quando observamos alguns estudantes espiritualistas tentando aprender, em qualquer curso ou palestra, todas as técnicas possíveis de ativação de chacras*, com o único objetivo de despertar a kundalini**, ou abrir a clarividência, ou mesmo despertar outras faculdades, mediúnicas ou anímicas, que eles insistem em conseguir, mesmo não tendo o menor preparo para suportar as consequências das mesmas.

Pouco se fala sobre isso nos meios espiritualistas, mas há por aí milhares de pessoas descontroladas, que perderam o foco de suas vidas, abandonaram família, empregos, estabilidade, justamente por não saberem lidar com as repercussões energéticas provocadas por práticas criadas em cursos mirabolantes, palestrantes ocasionais e workshops vagabundos, desses muitos que, volta e meia, chovem pela cidade.

Nesses casos, a nossa busca pela espiritualidade nos prejudica, por não sabermos discernir quais são os lugares que tratam a espiritualidade de forma sadia.

Sim, há trabalhadores da espiritualidade, homens e mulheres, que estudaram durante anos, que se tornaram praticantes e não teóricos de um assunto que, se mal conduzido, pode levar as pessoas para um caminho sem retorno, para o desastre.

E também há os vigaristas da espiritualidade, oportunistas que visam apenas o dinheiro, e não o que entra no coração, e que enxergam, na curiosidade exagerada que a massa possui em saber o que ocorre além da morte, a ocasião perfeita para se darem bem, mesmo sabendo que muitas pessoas podem pagar com a vida esse desejo de conseguir, hoje, o que só pode ser obtido amanhã (por evolução e esforço).

Diferentemente de outros caminhos, a espiritualidade exige uma consciência madura e serena, e muita paciência, pois é o caminho do não-mestre, da ausência de uma religião condutora.

Ou seja, uma independência voluntária, num processo demorado de transformação da ovelha em seu próprio pastor.

Para ser o pastor do seu próprio caminho, é necessário muito estudo, não apenas do caminho que trilhamos, mas principalmente da forma correta de caminhar. E, isso se tiver condições de trilhar alguma senda, e se houver preparo físico, mental e espiritual para uma jornada tão transformadora.

Essa peregrinação é para todos, mas nem todo mundo está preparado para percorrê-la.

Não basta aprender sobre viagem astral***, ocultismo ou bioenergia. Todo estudante espiritualista deve se questionar sobre as suas intenções com esses estudos, antes de se aprofundar na matéria.

E, ao iniciar as práticas, deve-se levar em conta que as repercussões dessas práticas irão variar de pessoa para pessoa. Afinal, cada um de nós possui um ritmo mental e físico, tanto para o aprendizado, quanto para os resultados de qualquer coisa que iniciamos em nossa jornada.

A espiritualidade não é brincadeira de curioso, ela é um caminho sem volta para o despertar da alma no corpo. Por isso, é preciso muito preparo, é preciso muita meditação para saber se pretendemos seguir esse caminho apenas para satisfazer mais um capricho da nossa mente, que sempre busca sentido em tudo, ou se estamos caminhando balizados pelo nosso coração, que sempre buscará um aprimoramento da nossa visão em relação àquilo que só estava escondido para nos dar motivo para aprender a procurar.
São Paulo, 02 de fevereiro de 2010.
- Nota de Wagner Borges: Frank é o pseudônimo do nosso amigo Francisco de Oliveira, participante do grupo de estudos do IPPB e da lista Voadores. Depois de vários anos morando em Londres, ele voltou a residir em São Paulo, em fevereiro de 2005.

Ele escreve textos muito inspirados e nos autorizou a postagem desses escritos. Há diversos textos dele postados em sua coluna da revista online de nosso site e em nossa seção de textos periódicos, em meio aos diversos textos já enviados anteriormente.
www.ippb.org. br – Outros textos podem ser acessados diretamente em seu blog na Internet: http://cronicasdofr ank.blogspot. com
- Notas do Texto:

* Chacras – do sânscrito – centros de força do corpo energético; vórtices energéticos.

** Kundalini - do sânscrito - significa literalmente "enroscada". Esse nome deve-se ao seu movimento ondulatório que lembra o movimento de uma serpente. Daí a expressão esotérica "fogo serpentino". Ela também é chamada pelos iogues de "Shakti" - do sânscrito - a força divina aninhada na base da coluna.

*** Viagem astral - experiência fora do corpo; projeção astral; projeção da consciência; desprendimento espiritual; emancipação da alma; saída astral.

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