sexta-feira, 30 de abril de 2010

Eu feri um Amigo dos mais amados!

Recebi o seguinte comentário do João Carlos, após a publicação do texto LUCIDEZ É VALOR ESPIRITUAL;

"Infelizmente, Deni, é mais fácil ser "religioso" do que ser espiritualizado. Eu já não consigo mais me proclamar "cristão" porque, cada vez mais, tenho raiva dos cristãos. Em lugar de beberem a sabedoria dos ensinamentos de Jesus, ostentam seu pobre corpo crucificado como emblema de sua "superioridade" (e têm a petulância de criticar os judeus, de onde tiraram a mesma arrogância biblica). Também não me proclamo mais "umbandista", porque fizeram questão aboluta de me provar e esfregar na cara que a Umbanda é Cristã. Ora, se eu não sou cristão, também não sou Umbandista... Desisti..."

Prá variar, sua profunda visão e inteligência me fizeram calar e refletir sobre horizontes até então inalcançados. Enquanto lia e refletia, em especial, o trecho: "Também não me proclamo mais "umbandista", porque fizeram questão absoluta de me provar e esfregar na cara que a Umbanda é Cristã.", me senti mortalmente envergonhado no amor e carinho fraternos que sinto e nutro pelo João Carlos.

Imediatamente disse a mim mesmo: "Eu feri ao meu Amigo!".

Sim, eu fiz! Pois há muito defendo a idéia de que a Umbanda é Cristã, mas não desta cristandade católica, notadamente uma das influências formadoras da nossa religião. Lembro muito bem (e aqui fica registrado publicamente uma "maldição" de minha caminhada, não esquecer uma só desfeita, canalhice, covardia, pisada no tomate, mentira e uma só linha do que tenha escrito), que antanho o fiz com veemência, mas falhei incapaz em demonstrar que para mim tal cristandade em Umbanda, nada tem a ver com catolicismo ou qualquer formatação dogmática que o Cristianismo terreno produziu.

Aprendi durante os estudos que o termo Cristo é uma designação e não um nome, assim como Buda. Aprendi que foi preciso apartar o judeu Jesus de Nazaré do divinizado Jesus Cristo para que se erguesse toda uma estrutura de pompa, circunstância, poder, ritos e regras. Aprendi e aprendo com as orientações dos Amigos Espirituais, desde Exu até Criança, André Luiz, Emmanuel, Ramatís, Paramahansa Yogananda, entre outros, que a mensagem, a vivência de Jesus é muito maior do que qualquer formatação humana e mais ainda, que suas palavras e vibração de Luz e Amor continuam vibrando e guardando este nosso planetinha, onde muitos zé-ruelas "religiosos" se arrogam possuidores das verdades divinas.

Falhei ao tentar explicar, nos debates da vida, minha crença de que Jesus, tem tudo a ver com Umbanda, mas não, como ele disse com propriedade, com a ostentação do pobre corpo crucificado como emblema de "superioridade". Mesmo numa imagem de gesso. Mesmo ainda em alguma possível "superioridade" umbandista.

Tentei até mesmo usar de um arranjo, trocando ética cristã por ética crística, para quem sabe assim demonstrar que a mensagem libertadora e libertária de Jesus, na verdade a cosmoética, jamais poderá ser encaixada com dogmas tais como:

Jesus Cristo é verdadeiro Deus e filho de Deus por essência;
possui duas naturezas que não se transformam nem se misturam;
ainda que homem, é Filho natural de Deus;
pecado original, ressurreição da carne, entre outros.

Mas, sem demérito algum, onde eu exalto Jesus, o João Carlos exalta os Orixás, e continuamos umbandistas (mas não será talvez o nosso "erro"? Pois enquanto dizemos que somos umbandistas, estamos dizendo somos religiosos, e assim mais distantes estamos de sermos tão somente espiritualizados, ou não?).

Já disse aqui e repito, não chamo de irmão de fé, mas aos que amo, admiro, respeito profundamente, independente da distância, de Amigo.

Acerta noutra coisa o Amigo João Carlos, está ficando cada vez mais difícil se apresentar como umbandista, em especial no exercício diário de auto-crítica que significa dizer auto-exame de consciência e por conseguinte, avaliação dos próprios atos e pensamentos e por extensão dos atos e posturas e discursos alheios. E não digo isso como validando possível auto-indicação de função de árbitro da postura alheia, mas sim da indispensável postura de avaliação entre o que diz e o que se quer dizer.

Sabe prq está difícil? Da mesma forma que colocou o João Carlos sobre o apontar de dedo dos cristãos em relação aos judeus, muito pior acontece entre os umbandistas que possivelmente e ainda por medo, preguiça ou ojeriza em raciocinar, avistam como grave ameaça qualquer possível observação divergente do que acreditam ser a “sua”Umbanda ou o “meu modo de fazer” Umbanda.

Não à toa escreveu o João Carlos há algum tempo:

“Eu, cansei... Cansei de ficar falando que não existe "certo" ou "errado" em matéria de ritual. Cansei de ficar procurando achar pontos de convergência para aceitar noções que me parecem duvidosas, mas, se as pessoas acreditam que é assim... Cansei de lutar por uma união com gente que só sabe bater na mesma tecla: "Meu jeito é certo".

Cansei de discutir se Preto Velho é mesmo preto, mesmo velho, se reza para Jesus, se Cigano é "linha", se Tamandaré anda de pedalinho, se Exú é "espirito de Luz", se pode ou não bater atabaque, se o Caboclo das Sete Encruzilhadas foi o arauto ou o fundador da Umbanda, se Orixá é africano ou brasileiro, se Santo Católico é Orixá ou não, se Umbanda teve origem na Lemúria ou Gondwana, se o nome é Bantu ou Sânscrito.... Enfim: cansei!...

Cheguei à triste conclusão de que somos um bando de individualistas que estão mais interessados em "ganhar uma discussão" do que realmente buscar a luz.

Meu Umbandomblé me satisfaz. Quem não gostou, tenha a decência de ficar calado. Eu não faço proselitismo do "meu jeito", porque acho que cada um tem seu lugar.

Eu gosto de discutir idéias, não rituais. Se meu Xangô de Guia vermelho e branco incomoda, sinto muito... Mas eu gosto muito da minha Guia de miçangas rajadas e não vou trocar!”

Isso meus amigos se chama autenticidade e vergonha na cara, posturas e valores dos mais difíceis de se encontrar nas comunidades umbandistas virtuais ou não.

Por isso mesmo João Carlos, me desculpe pelas besteiras e incapacidades de dizer à vc que, mais do que o modo que vc pratica Umbanda, a sua pessoa íntegra e verdadeira é que verdadeiramente honram a oportunidade de ser teu Amigo.

Um dia chego lá! Não à toa o avatar que uso é de uma tartaruga, RS

Abraços! Paz e Luz!

"Aprendi silêncio com os falantes,
tolerância com os intolerantes,
e gentileza com os rudes;
ainda, estranho,
sou ingrato a esses professores..." Kalil Gibran

4 comentários:

João Carlos disse...

Não foi você, Mano Deni... Se dei essa impressão, quem pede desculpas sou eu.

Bem sei qual é seu entendimento sobre o Cristo. E coincide com o meu.

O que me arrepelou foi a insistência exclusivista de muitos em reforçar que a Umbanda-de-Zélio nasceu honrando os Santos Católicos e sincretizando estes com os Orixás africanos; nunca vice-versa!.

Isso dá azo a se entender que o "milagre" da Umbanda teria sido converter até os "Orixás Pagãos" ao "único Cristo verdadeiro", Ieshua ben Iosef (deveria ser ben Ihwh... mas deixa isso pra lá...)

Por isso, naquele tópico lá do Orkut, quando perguntaram "quem manchou a Umbanda?", eu respondi que "um dos porcos sou eu" e pedi meu boné.

Não aguento mais essa arrogância de quem acha que "este jeito é o certo porque assim me parece". Algo - infelizmente - comum entre os que se proclamam "Cristãos" (quando nem Jesus se proclamou coisa alguma... quando ele se diz "filho de Deus", ele está dizendo que é tão filho de Deus como qualquer um que o esteja ouvindo).

Qualquer um com um poquinho mais de cultura geral sabe que mais da metade dos mitos associados ao "Jesus Oficial" são pinçados de Mitra e Sol-Invictus pelo pagão impudente Constantino e seus sequazes.

A grande mensagem: "todos somos iguais e, se queremos agradar o Criador, respeitemos a criação dele", se perde em meio a preocupações com "purezas rituais" e é mais obscurecida ainda nas doutas palavras de "mestres dos segredos".

Não foi você que me feriu. Foi a vida...

Edenilson Francisco disse...

João Carlos, não vc não precisa se desculpar nadica de nada! Não foi impressão que deixou passar não. Eu é que atinei da falha em minha comunicação naquilo que tantas vezes concluímos, estavámos a falar do mesmo (tal e qual nossos alvinegros carmas), usando apenas modos diferentes.

Prq então me envergonhei? Eu era um dos individualistas que estavam mais interessados em "ganhar uma discussão" do que realmente buscar a luz. Vc sabe bem disso.

E quanto arrogante eu era! Perdi tempo e energia com tal atitude, perdi a convivência com boa gente, pois o que mais eu busco são AMIGOS VERDADEIROS.

E aqui me lembro de algo que li do Pastor Ricardo Gondim: "Quero terminar meus dias e poder dizer que, mesmo descrendo das ideologias, dos sistemas econômicos e das instituições religiosas, cri em verdadeiras amizades porque tive bons amigos.

Até porque Deus não só ama, como também nos chamou de amigos"

Enquanto houver ideologia, religião formatada, títulos, e estivermos mais preocupados em defende-las, como se fossem a nossa grande verdade, estaremos muito, muito distantes deste Deus Amigo,Companheiro e Pai.

Abraços Querido Amigo!

Ouvindo as Vozes de Aruanda disse...

Em verdade, há muito o chamado "Movimento Umbandista" tem sido palco de intrigas, guerras, fofocas, conchavos, calúnias e difamações. Muitos "líderes" estão procurando dinheiro, poder, mulheres, menos realmente espiritualidade.

Adoramos rótulos, títulos, menções honrosas, medalhas, aparecer em revistas, debates via internet, televisão e rádios.

Queremos trabalhar somente com "chefes de legiões" (ah!, vaidade... seu nome é mediunidade...), nos esconder atrás de discursos hipócritas de convergência, convivência pacífica e outras "palavra da moda" que, na prática, nunca são aplicadas.

No que pese uma moda do tipo "tá todo mundo certo", "graus de consciência", continuamos assistindo guerras do tipo "fulano vs. beltrano", gente que se diz iniciada em todas as Tradições (Catimbó, Xambá, Toré, Candomblé, Omolokô..) e se coloca como uma espécie de arauto do astral.

O problema da Umbanda não são doutrinas e sim os umbandistas. Como todos os religiosos buscamos estar sempre do "lado certo", "verdadeiro".. queremos o monopólio de uma Verdade que não alcançamos ou compreendemos.

Enquanto a Umbanda continua sendo a lata de lixo do mundo, aceitando que em seu seio se aninhe todo tipo de doutrina religiosas, continuaremos sem identidade. Enquanto entendemos "convergência" e "convivência pacífica" como uma imensa mistureba, criada por interesses comerciais sem nenhuma ligação com o Sagrado, realmente devemos deixar de lado rótulos, denominações é tudo mais para simplesmente vivermos a nossa espiritualidade.

Saravá.

Ricardo.

Edenilson Francisco disse...

Olá Ricardo!

É, falar o quê após suas observações?

Pelo que tenho visto, lido, presenciado eeeeee resolvido para mim mesmo, viver nossa espiritualidade é a chave para nossos dias, seja pelo atual e ainda comatoso estado do movimento umbandista, seja pela psicoesfera do planeta.

"O problema da Umbanda não são doutrinas e sim os umbandistas. Como todos os religiosos buscamos estar sempre do "lado certo", "verdadeiro".. queremos o monopólio de uma Verdade que não alcançamos ou compreendemos."

E que não fazemos o trabalho interior necessário para isso, adicione-se!

Lado certo... ééééé... Será que se fecharmos os olhos, ainda veremos Luz neste?

Abraços!

Paz e Luz!