Em maio último, durante um bate papo com Pai André, Sacerdote de Umbanda da Cabana Espírita das 7 Linhas de Umbanda, situada no Rio de Janeiro, fui assim chamado, Pai Edenilson.
Sei que Pai André não o fez por chacota, ironia ou sarcasmo, não é de sua conduta em nosso convívio comunitário virtual fazê-lo, fez por simples respeito, inclusive se hoje estou aqui citando seu nome e de sua Casa, é por que o mesmo me autorizou, durante nosso papo acima citado.
O fez dentro do curso das ideias que seguiam durante o ir e vir das argumentações. Mas como me doeu ao me ver assim ser designado.
Principalmente por me recordar de passagens onde tive duras lições sobre humildade, caráter e sinceridade. Estas lições me foram trazidas pelas mãos de Amigos Espirituais aos quais sirvo como médium e outros, por Amor e coerência, NÃO A MIM, não senhor!
Mas a uma Verdade muito maior e que eu precisava aprender, com mão firme, ainda assim amorosa.
Creio que o Amor verdadeiro e que se revela em tantas faces: família, companheirismo, amizade, relacionamento, religiosidade, espiritualidade não acoberta nem é conivente, muito menos covarde e dissimulado. Não estende o abraço contando ter a garantia de ser recompensado com apoio cego no dia de amanhã. Não faz vender sua consciência por querer estar do lado "certo" ou do lado que irá trazer vantagens.
Amor verdadeiro não faz rimar amizade com falsidade, hipocrisia, mentira, interesses escusos.
Em 2007 fui convidado a estar na abertura de terreiro em São Paulo (e se não cito nomes do terreiro e dirigentes é só por respeito e nada mais), e como não conheço nada da capital, nadinha de nada mesmo, ainda bem que o metrô está cheio de placas com desenhos, fui recebido por Kátia Rister e sua família, sem que eles nunca tivessem visto minha carantonha.
Recebido, acomodado, abraçado e acolhido como se fora amigo de longa data. Tempos depois é que fui saber que amizades espirituais maiores não veem distâncias...
Como não recordar da emoção quando pisei pela primeira vez na Tenda Espirita de Umbanda Cacique Águia Valente, fundada em 1964 pela Sra. Izaura Rister, na cidade de São Caetano do Sul. Como descrever o que senti ao me deparar com uma verdadeira Casa de Umbanda, não tem como...
Bem, como ia para uma abertura de um terreiro, levei é claro roupa branca e guias. Quando lá chegamos, a sessão já estava no rito de defumação e após nos acomodarmos, aguardamos a entrada para cumprimentar os dirigentes e seus Guias.
Levei um ramalhete de rosas brancas para homenagear à Casa e assim que pude fui entrega-las. Pois bem aqui é que começa a lição que recebi. Fui com aquela pretensão besta e ilusória de ser recepcionado como um.... chefe de terreiro! Mesmo não tendo me identificado assim antes em nenhuma ocasião, mas como diz a gíria, fui me achando. E achei!
Lembro-me de ter ajoelhado assim que entrei no espaço dedicado aos Guias e entreguei emocionado o ramalhete de rosas, cumprimentei cada Caboclo e fiquei meio de lado num sabe? Esperando ser convidado a manifestar o Caboclo, eeeeee... nada!
Ouvi apenas em minha mente: "Volte ao seu lugar!"
Foi o que fiz e assim que me acomodei, ouvi novamente a voz firme, forte e límpida do Caboclo que sou médium:
"Você não disse, esta semana para uma pessoa, que você é apenas mais um médium em sua Casa? Pois então, sente-se e coloque-se no seu devido lugar!"
Como dizer da vergonha que senti me abrasando o rosto, mesmo que ninguém ali tivesse ouvido ou presenciado?
Como não reconhecer cabisbaixo, a lição dura e necessária que mereci receber por conta da vaidade em receber deferência por conta de uma designação de título?
Este Caboclo sabe bem a besta ruana que precisa orientar e conduzir no caminho espiritual de Umbanda. Sua mão é firme, austera e por vezes dura. Jamais humilhante, e profundamente, amorosa.
Mesmo assim, houve uma segunda bobeira;
Em novembro de 2008, fui ao Teatro Municipal de Bauru para assistir à Umbanda Fest e logo na entrada, entre outras pessoas, encontrei Dona Maria, uma das Dirigentes do Templo Thunan, organizando a coleta de dados aos que quisessem participar do sorteio de prêmios que ocorreria durante o espetáculo. Você sabe o que é uma pessoa que é a doçura em corpo presente? Pois bem, é assim Dona Maria.
Peguei uma ficha e quando ia preenche-la, Dona Maria me disse que deveria faze-lo identificando-me como Chefe de Terreiro, educadamente recusei, dizendo que não o era. E ela com seu sorriso e olhar maternos, disse para o rapaz que recolhia as fichas, que colocasse na caixa para os mesmos. Resignei-me.
É bom deixar claro uma coisa, pois infelizmente há os que enxergam pela sua escuridão interior que em tudo o mais também seja, não estou culpando Dona Maria, não houve de sua parte má intenção. O que veio depois foi fruto de minha invigilância.
Seguia-se a festa perto do final e naquele ano, Pai Carlos Buby do Templo Guaracy se apresentaria com seus filhos e filhas, o que foi efetivamente o marco maior daquele ano. Para o número final, a interpretação do música Feiticeiro Negro, bandeira resgatada da luta contra o preconceito religioso, foram chamados aos palco, Pais e Mães de Santo (termos aportuguesados da língua africana, Babalorixá e Yalorixá), primeiro voluntariamente, depois através das fichas preenchidas. Quando meu nome foi anunciado fui.
Fui por absoluta vaidade gerada naquela época por mágoa ainda não curada. Alguns pude abraçar, outros, talvez por mágoa também sequer registraram minha presença dirigindo o olhar. Houve ainda quem registra-se por mera formalidade. Cantei a música de mãos dadas com a corrente de Sacerdotes que ali se formou.
Não ouvi nenhuma voz desta vez, não registrei a presença do Caboclo. Mas este, e desta vez os outros Amigos Espirituais também, cada um do seu modo, não demoraram para me fazer "cair na real" não pelo que fiz, mas sim pelo que motivado o fiz.
Em certo momento no palco, olhei para a plateia presente e vi Sacerdotes muito experimentados que simplesmente não se mexeram, inclusive estava eu sentado anteriormente ao chamado, ao lado de um dos mais dignos que conheço, Sr. Galhardo.
Isto foi o que me foi mostrado logo depois e como doeu, meu Deus, como doeu ter enxergado que novamente caí na vala comum da vaidade, aditivada agora com mágoa. Desde então trabalho duramente para superar esta ferida que infeccionada me roubava momentos, pensamentos, sentimentos maiores.
E é por AMOR, um Amor muito maior a dor sentida e necessária, que me libertei desta vala.
Ninguém, absolutamente ninguém é culpado ou responsável pelo que vivi e senti. Quem me conduziu ao vale escuros e tenebroso foi eu mesmo, eu sou responsável por cada escolha feita nos caminhos escolhidos.
Ao contrário, foram professores e por isso sou imensamente grato aos que me feriram, se não o fizessem quanto tempo demoraria para descobrir que "as nuvens não são de algodão, que os ventos à vezes erram a direção, que quem ocupa o trono, quem oculta o crime, quem duvida da vida, que evita a dúvida", estes sim é que tem...
Se "títulos" eu quero receber é de, Amigo Leal ou tão somente Alguém Querido. Mas de verdade, na transparência e honestidade.
Por isso pedi ao Pai André que não me chamasse de Pai de/no Santo, pois não o sou, não recebi tal outorga, se é que um dia a Espiritualidade de Umbanda o fará. E será apenas pelas Mãos desta é que efetivamente serei, um dia, talvez, Chefe de Terreiro.
E mesmo que não o faça, eu amo cada um do Amigos Espirituais que me orientam, Amo os Amigos verdadeiros que perto ou distante são autênticos nos que sentem por mim. Que interessa ter um milhão de "amigos" e não poder contar com nenhum a quem se confie para abrir de verdade o coração, mas de verdade mesmo, como já vi acontecer?
Não sei como e para que serve para muitos um terreiro de Umbanda, para mim, serve de cinzel que nas Mãos dos Escultores da Vida Maior, farão um dia esta pedra bruta se transformar em coisa que valha.
Até lá...
O DESPERTAR
Acordo para dormir,
mas vou acordando devagar
Sinto minha sina no que não posso temer
Aprendo no andar para onde ir
Pensamos sentindo
O que há para conhecer?
Ouço meu ser dançar de ouvido a ouvido
Acordo para dormir
e vou acordando devagar
Dos que estão perto de mim, quem é você?
Deus abençõe o chão! Hei de ali caminhar manso
E aprender no andar para onde ir
A luz envolve a Árvore, mas quem nos dirá como?
O humilde verme escala a espiral da escada
Acordo para dormir e vou acordando devagar
A Grande Natureza tem outro plano
para você e eu, aspira então o ar vivaz
E, amável, aprende no andar para onde ir
Este tremor mantém-me firme
Devia saber
o que desparece é sempre
E está perto
Acordo para dormir e vou acordando devagar
Aprendo no andar para onde ir
(peço desculpas, mas desconheço o autor)
Paz e Luz!
2 comentários:
MUITO LINDO SEU TEXTO MEU IRMÃO, A PIOR COISA QUE PODE ACONTECER A UM MEDIUM É ELE SE ACHAR MELHOR QUE OS DEMAIS...
E INFELIZMENTE ISSO ESTA ACONTECENDO MUITO EM NOSSA UMBANDA, QD AS PESSOAS SE 'TORNAM' PAIS OU MÃES DE/NO SANTO MUDAM O MODO DE AGIR, SÓ ENXERGAM O PROPRIO UMBIGO, EMPINAM O NARIZ E ACHAM DONOS DA VERDADE,ALGUNS SE ''TORNAM'' ATE SANTOS....RSRSRS
KI PENA NÉ AMIGO, ISSO DÓI MUITO, PQ UMBANDA É SIMPLICIDADE , AMOR,E PRINCIPALMENTE IGUALDADE JÁ QUE SOMOS TODOS FILHOS DE UM MESMO PAI.
MAS É ASSIM MESMO , VAMOS PROCURAR FAZER SEMPRE A NOSSA PARTE DA MELHOR FORMA POSSIVEL.
QUE NOSSOS ILUMINADOS GUIAS PROTETORES NOS AMPARE SEMPRE.
AXÉ
Olá Cantinho da Umbanda! A grande Mestra Dor é quem na verdade produziu este texto.
E se por tudo o mais pelo qual eu amo a Umbanda (mas nem tanto o movimento umbandista), me fosse tirado, restando apenas o cinzel citado, eu manteria acesa a chama deste amor.
Pois acredito firmemente que Umbanda, assim como terreiro, nas mãos do seus verdadeiros representantes, são especialistas em fazer cair nossas ilusões.
Obrigado por sua visita!
Sigamos fazendo a parte que nos cabe, acreditando no melhor.
Paz e Luz!
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