terça-feira, 5 de agosto de 2008

Ética e Trapaça ( ou a arte do discurso da média para conseguir o que se quer)

Olá! Lembrei-me de um texto num livro do autor Rubem Alves, que é um dos meus prediletos, e penso traduz muito bem os rumos de ontem e de hoje de muitas trajetórias, seja na política, na religião e outros setores. Ética e Trapaça (Como trapacear e se manter ético ao mesmo tempo - título de um dos capítulos do livro Introdução à sociologia - Peter Burger). Em vermelhito adendos meus.


Conta-nos Rubem Alves um estória para melhor entender-mos a situação: "Havia, numa cidade do EUA, uma Igreja Batista (mas se for no Brasil, pode ser um Terreiro de Umbanda ou Federação, Instituto, Ong, etc). Os batistas, como se sabe, são um ramo do cristianismo muito rigoroso nos seus princípios éticos. Nessa mesma cidade havia uma cervejaria que, para a Igreja Batista, era a vanguarda de Satanás. O pastor, representante de Deus, não poupava a fábrica de cerveja nas suas pregações: era a luta do Santo Guerreiro contra o Dragão da Maldade. Aconteceu, entretanto, que, por razões pouco esclarecidas, a fábrica de cerveja fez uma doação de 500 mil dólares para a Igreja Batista. Os membros da Igreja foram unânimes em denunciar aquela quantia como dinheiro do Diabo que não poderia ser aceito. Passada a exaltação dos primeiros dias, acalmados os ânimos, os mais ponderados começaram a analisar os benefícios que aquele dinheiro começaram poderia trazer. Uma pintura nova para a Igreja, um orgão de tubos, jardins mais bonitos, um salão social para festas (tudo em nome da nossa amada religião). 


Reuniu-se então a Igreja em assembléia e, depois de muita discussão, registrou-se a seguinte decisão no livro de atas:"Esta Igreja Batista resolve aceitar a oferta de 500 mil dólares feita pela cervejaria, na firme convicção de que o Diabo ficará furioso quando souber que o seu dinheiro vai ser usado para a Glória de Deus". 


Quando a ideologia é nobre, qualquer meio é permissível. Se esse acordo entre "ética" e "trapaça" valeu para a Igreja, por que não valerá para os partidos políticos?"


Fico pensando em outro dois pontos:"Disse Jesus: "Seja esta a vossa linguagem, Sim-Sim, Não-Não!" (Mt 5, 37)" e "“Tudo me é lícito, mas nem tudo me convém” - Paulo 1Cor 6:12" E aí paro de pensar quando vejo os conchavos entre quem ontem era do contra e hoje é amigo do peito, quem ontem chamava de hipócrita e hoje é irmão do coração. Definitivamente a arte de fazer média não é prá mim.


Nem tampouco a fina arte de misturar política e religião. A primeira por querer me comprar a alma e a segunda por pretender salvar a mesma, desde que eu aceite que estou perdido.


Paz e Luz!

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