sai de cima do telhado
deixa esse menino
dormir sossegado"
Cantiga de embalar popular
Peço desculpas ao Alexandre Cumino pela demora no retorno, mas como matuto já um tanto véio de lida, me acocorei no quintal prá pitá um paieiro, fiz o que quarqué roceiro faiz depois de encoivará o campo antes de deitar suas sementes.
Falo referente ao papo iniciado via e-mail com este prestigioso umbandista sobre o vídeo “Programa do Mal” – Hermes e Renato, um tanto antes do artigo por ele publicado no JUS – Jornal de Umbanda Sagrada, indico link abaixo para leitura na íntegra. Para ieu, o vídeo jazia exorcizado e enterrado faiz é tempo, mas como muitos ainda o evocam, o tar como bom morto-vivo, sempre se alevanta de novo da sua cova.
Caricatura da Umbanda, é para rir ou chorar?
http://groups.google.com.br/group
Então vamos lá! Agora que me persignei, fiz um colar de dentes de alho: Pé de pato, mangalô treiz veiz!!!
Divirjo em alguns pontos, porém mantenho firme esperança juntamente com Alexandre, que as perguntas e as reflexões propostas, incomodem e muito os umbandistas.
Afinal é isto o que o humor, os filósofos, os sonhadores, os impertinentes, os poetas, os questionadores, os hereges fazem, INCOMODAM as sólidas propostas de (re) evolução, as (im) posturas de bom tom, as falas de ordem unida, a seriedade das exaltações de organização, correção e união das (im) perfeições internas.
Não à toa quando os líderes conquistadores (e seus asseclas) assumem o poder, os primeiros a serem caçados, presos e jogados à fogueira sejam estes. Muitas vezes o fazem enquanto caminham para chegar lá, como aviso de que este é o seu jeito de encoivarar.
Humor não pode ser politicamente correto, senão vira piada de salão do chá das cinco, gracejo bajulador prá agradar aos que se entronizaram no poder, chiste de faz-de-conta "oh! como sou espirituoso!" nos discursos.
Fiquei mesmo me perguntando o que tanto naquele vídeo poderia incomodar os umbandistas, afinal é a Umbanda ali satirizada?
Disse-me o Alexandre que o que se vê ali é a ridicularização, banalização, demonização de símbolos da Umbanda. Entonces:
a) Se não for, precisamos deixar claro a sociedade, pela qual há tanto esforço para que nos aceite e enxergue com outros olhos que de fato o que ali é mostrado não faz parte da religião, que medonhamente foi satirizada e distorcida.
Só não sei o que se fará quando alguns que assistiram ao vídeo resolverem ir até um ou mais terreiros prá averiguar (ao contrário de muitos que apenas ficaram no superficial), e de repente descobrem que o intolerante e preconceituoso Programa do Mal, apontado pelos revoltados umbandistas pode ser apreciado ao vivo, em cores e trajes muitos mais vistosos, com uma gama muito maior de personagens e com aval de espiritualidade, de liberdade de culto religioso. E ouvir os mesmos diálogos transcritos (não sei vc , mas eu já ouvi os mesmos diálogos entre umbandistas, o que me faz quase ter a certeza que é da comunidade o redator das falas).
b) Se for, então caímos no diagnóstico citado por Alexandre, a hipersensibilidade a todo e qualquer indício de ranhura na bela e bem maquiada imagem que se quer mostrar (ou prq não dizer “vender”?).
Hipersensibilidade esta não tanto pela crítica ou sátira, mas pela indignação de ofendido culpável.
E aí o que faremos? Convidaremos as pessoas a fazer tal curso e ler tal livro ou a não fazer tal curso e ler tal livro?
Convidamos para ir ao nosso terreiro e ali conhecer a verdadeira Umbanda?
Gritaremos palavras de ordem nas praças (mas que não demorem muito, pois tem despacho na encruza prá se fazer prá dar um jeito no fulano ou no sicrano, algum desafeto língua preta).
Ou respeitaremos o livre-arbítrio das pessoas para que através de sua própria consciência possam examinar a nossa postura no dia-a-dia, a nossa coerência entre o discurso e a prática da caridade, da humildade, da ética, da tolerância, do amor, da paciência, da amizade verdadeira, sem holofotes e flashes, nos atos mínimos muitas vezes invisíveis, como umbandistas e cidadãos?
Mas que possuem o poder de transformação muito maior e são vistos por quem de fato e direito pode avaliar com qual propósito foram feitos. Nem tudo o que reluz é ouro...
Que faremos com àqueles que por preguiça mental, os indiferentes, os irreverentes que repetem as mesmas falas que sabemos correm em nosso meio?
Os já com idéias deturpadas pela doutrina que professam ou foram condicionados ou os que simplesmente têm o direito de não gostar do que acreditamos e praticamos?
Processaremos como me foi dito? Baseado em quê (no caso do vídeo) em incutir preconceito induzindo a crença de que este e aquele procedimento faz parte da Umbanda, mas como contra-argumentar, sem passar carão, se os próprios umbandistas acreditam e fazem por que acreditam?
Processaremos o Chico Anísio por conta dos personagens Véio Zuza, Painho também? E em nome de uma tolerância mais abrangente poremos na conta o Tim Tones?
Processaremos a humorista Katiúcia quando sua personagem Lady Kate sacoleja ao som incidental de atabaques fingindo “receber”?
É para se pensar que relação é esta que se quer afinar entre os praticantes contraditórios de uma religião e a sociedade onde esta se encontra inserida e que nos afasta, marginaliza e rejeita, mas que é nela que este mesmos adeptos buscam aprovação e sustentação.
É para se pensar se queremos respeito ou piadas politicamente corretas ou ainda que sejamos esquecidos pelos humoristas com sua língua preta a nos apontar a braguilha aberta.
Afinal se um quadro de humor medíocre (que satirizou uma realidade existente, mas que eu não chamo de Umbanda. Juca Chaves disse certa vez numa entrevista que quando a sátira é bem feita não gera reclamação, aí talvez esteja o verdadeiro argumento para processar Hermes e Renato...) é capaz de tamanha celeuma, é possível temermos que a construção da imagem que se quer apresentar a sociedade e que julgam consistente, na verdade é muito débil e ilusória, possivelmente por falta de conteúdo ou convicção.
Ou talvez ainda por medo do maior bicho-papão que os umbandistas têm;
AUTO-CRÍTICA!
Quem assistiu a Harry Potter e o Prisoneiro de Azkaban deve se lembrar da cena onde um dos professores, na aula sobre Defesa Contra as Artes das Trevas, dá a dica sobre como sobrepujar o Bicho-Papão (lembremos que o artifício desta criatura é se transformar naquilo que mais tememos);
O RISO!
Com o seguinte mantra-feitiço ; Riddikulus!
Mas um aviso, só funciona prá quem tem senso do próprio ridículo e não tem medo de olhar para si mesmo.
Paz e Luz!
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